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A exposição Tempo-Matéria

Cinco artistas contemporâneos expõem, a partir do próximo dia 20 de março, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, instalações com uma única proposta: refletir, sob diferentes visões, a questão do tempo e sua relação com a arte. Foram escolhidos pelo curador e pesquisador do programa de pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Luiz Cláudio da Costa exatamente por já virem pesquisando a questão, que é o tema central do projeto do próprio Costa.

– Minha ideia é discutir o tempo na obra de arte, visando tanto o processo quanto seus resultados", afirma Costa, contemplado pelo edital Apoio à Produção e Divulgação das Artes no Estado, de 2008, com projeto do mesmo tema da exposição: Tempo como matéria.

A exposição Tempo-Matéria já é um desdobramento do projeto do curador. Mas até chegar a esse resultado, houve um processo, também devidamente registrado.

– De início, tivemos cinco encontros, no ateliê de cada um dos artistas, em que cada um deles falou de suas ideias e como era seu processo de criação. Depois, tivemos uma mesa-redonda no Parque Lage, em que apresentamos todas essas ideias ao público. Nossa intenção foi desfazer os limites entre artistas e teóricos e apresentar também a questão da arte enquanto processo. Tanto que fizemos outros cinco encontros, nos ateliês, já com a obra em andamento, e uma última reunião está prevista para acontecer durante a mostra no MAC. Será uma mesa-redonda que, além dos artistas, terá a participação de Guilherme Bueno, diretor do MAC, Rogério Luz e o próprio pesquisador. Na ocasião, novamente serão discutidos aspectos artísticos e teóricos – explicou Costa.

Para o curador, Tempo-Matéria é tanto exposição quanto projeto de pesquisa. E também deu origem ao livro-catálogo, que será lançado durante a mesa-redonda programada para o MAC.
Ao mesmo tempo em que traz a pesquisa acadêmica para o espaço do museu, também reintroduz na universidade o experimentalismo próprio das atividades da arte contemporânea. Não foi por acaso que também pesou na escolha de Costa o fato de que os artistas participantes da mostra – Ricardo Basbaum, Leila Dazinger, Malu Fatorelli, André Parente e Lívia Flores – são pesquisadores envolvidos em atividades de ensino e pesquisa. Alguns do Instituto de Artes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e outros da Escola de Comunicação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Entre os cinco artistas – que apresentam trabalhos em materiais e procedimentos diversos – tempo e efemeridade são vistos de formas bastante distintas. A única constante é o recurso do vídeo, que serve como elemento de ligação entre as cinco instalações, sua poética e o espaço do museu. No museu, aliás, cada um deles conta com dois espaços para expor: um interno, no salão principal, e seu equivalente no corredor externo a esse salão.

Malu Fatorelli, por exemplo, apresenta, do lado interno, uma mesa com uma imagem de um relógio de sol, em que cada hora é marcada por uma chave. Detalhe: as chaves, na verdade, são formadas pelo skyline de fotos da Pedra da Gávea e dos edifícios à volta, tiradas pela artista plástica do centro da Lagoa Rodrigo de Freitas. Do lado de fora, um vídeo mostra ao público como se desenrolou o processo de execução da obra. Já André Parente, faz, em Belvedere, a projeção da paisagem externa ao museu, criando a ilusão de que a parede do museu foi retirada.

Na leitura da artista plástica e pesquisadora Leila Danziger, essa efemeridade pode ser vista na avalanche de notícias com que somos todos bombardeados diariamente, fadada ao esquecimento diante das novas levas que não param de chegar. Essa temporalidade – o esquecimento na cultura da informação – é traduzida nas folhas de jornais diários, descascadas com fita adesiva e carimbadas com frases poéticas. Todo o processo de criação e execução artística também foi registrado em vídeo.

– Tudo isso são formas de mostrar a efemeridade da obra. Para mim, a questão do tempo, sobretudo na arte processual, aparece em duas vocações. A primeira, e em que essa transitoriedade é mais visível, são aquelas que normalmente se entende por obras efêmeras, como intervenções no espaço da cidade, performances e outras formas de arte em que a obra se restringe a um determinado acontecimento – explica Costa.

A segunda vocação, para o pesquisador, "é a que afirma a transitoriedade de todas as coisas, inclusive da arte, pela multiplicidade de uma mesma obra diante do próprio processo de mudança que acontece no decorrer do tempo".

– O tempo leva a inúmeras mudanças, a reaparecimentos e novas transformações – diz.
Mas antes mesmo da abertura da exposição, Costa estará fazendo, dia 15 de março, o lançamento do livro Dispositivos de Registro na Arte Contemporânea. O assunto? Costa coloca no ar a pergunta se os registros da arte processual não seriam também peças de arte.

– A pesquisa é voltada para o registro de obras efêmeras, em fotografias, filmes e vídeos. E nela se coloca a questão: será o registro uma obra em si ou apenas um documento da obra? No livro, isso é discutido em diversos artigos, por diferentes autores, que abordam variados aspectos da questão, nem sempre com visões semelhantes.

– Embora existam artistas que rejeitam o registro enquanto arte em si, para mim, ele é as duas coisas. Ou seja, tanto é obra – ou um dos múltiplos da obra – quanto documento, o que me leva a voltar a pensar nas duas vocações sobre efemeridade da obra de arte. De certa forma, tanto exposição quanto livro são reflexões a partir de uma mesma questão – conclui.

Fonte: Governo do Rio