Por Joyce Pimentel*
Uma bomba-relógio. Assim um policial do 22° BPM (Benfica) definiu a situação no Complexo da Maré, em Bonsucesso, Zona Norte da cidade, onde traficantes estão em guerra desde o dia 31 de maio. Na ocasião, um grupo comandado pelo traficante Nei da Conceição Cruz, o Facão, vindo das favelas Baixa do Sapateiro e Timbau, tentou invadir as comunidades vizinhas.
No entanto, a Polícia Militar continua ocupando a região por tempo indeterminado. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) circula no interior das comunidades com o apoio do veículo blindado. O dia de ontem (13/06) foi de aparente tranqüilidade. Era possível ver nas comunidades crianças nas ruas e os moradores transitando normalmente.
Desde o início dos conflitos, três PMs morreram em tiroteios com os traficantes. Outras nove morreram, entre as vítimas um pedreiro morador da Vila dos Pinheiros, que voltava de um jogo de futebol com amigos na Vila do João.
O motivo da guerra entre quadrilhas seria a tentativa de retomada de poder de Facão, que em abril foi solto pela Justiça, juntamente com o Márcio José Sabino Pereira, o Matemático. Os dois conquistaram o benefício do regime semi-aberto, para trabalhar durante o dia, mas não retornaram à prisão.
Ambos são apontados como líderes da facção Terceiro Comando Puro (TCP) e buscam recuperar as bocas de fumo perdidas para o grupo rival Amigos dos Amigos (ADA) quando foram presos. Segundo a delegada titular da 21ª DP (Bonsucesso), Valéria de Castro todos os envolvidos nos confrontos já foram identificados e tiveram prisões solicitadas à Justiça.
— Nós ainda não podemos divulgar as identidades para não atrapalhar as investigações, mas já sabemos quem são os responsáveis. Inclusive já pedimos que as prisões preventivas do Facão e do Matemático sejam decretadas — esclareceu.
Nem milícia e nem tráfico
O clima também era de aparente tranquilidade ontem nas favelas do Dezoito e do Sassu, respectivamente na Água Santa e em Quintino, na Zona Norte, após o intenso tiroteio que assustou os moradores na madrugada da última sexta-feira (12/06). Na ocasião, pelo menos uma pessoa morreu. O comerciante Francisco das Chagas Santiago da Silva foi fuzilado por traficantes por compactuar com milicianos. A ação foi comandada por Luciano Oliveira Felipe, o Cotonete, que dominava o tráfico antes de ser expulso pelo grupo do ex- soldado da PM, Fabrício Fernandes Mirra, o Mirra, e se esconder no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, dominado também pela facção Amigos dos Amigos (ADA).
O confronto ocorreu devido à disputa pelo controle da região entre traficantes e milicianos, que expulsaram bandidos da ADA, em maio do ano passado, e impuseram cobranças em todas as atividades do local, incluindo barraquinhas que vendem lembranças de São Jorge no dia em homenagem ao santo.
Policiais do 3° BPM (Méier) e do 9° BPM (Rocha Miranda) realizaram rondas constantes pelas comunidades, mas não houve registro de novos confrontos. Um veículo blindado da corporação dá apoio à operação, mas devido às estreitas vielas os PMs realizam patrulhas a pé.
De acordo com o coronel Marcus Jardim, comandante do 1º Comando de Policiamento de Área (1º CPA), a polícia continuará ocupando a região por tempo indeterminado. Questionado se os traficantes teriam conseguido seu objetivo ou se milicianos ainda dominam as favelas, o comandante foi enfático.
— Ali não tem marginais de espécie alguma. Agora ali é área da polícia. Vamos continuar com o policiamento reforçado naquela região — assegurou.
* repórter especial AIB – [email protected]
Fonte: AIB