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Acordo pode esbarrar no Cade

A Perdigão e a Sadia anunciaram, na manhã de terça-feira, a fusão de suas operações em um negócio que cria uma potência global em carne processada, com faturamento anual superior a US$ 20 bilhões. A operação, que ainda precisa da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), foi anunciada à imprensa em um hotel de São Paulo, pela manhã, na presença dos presidentes de ambas as empresas, Luiz Fernando Furlan, do lado da Sadia, e Nildemar Secches, da Perdigão.

Para o assessor técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Marcos Pó, a fusão pode provocar aumento dos preços e queda na qualidade dos produtos, já que diminui a concorrência.

– As empresas não se juntam para o bem do consumidor, elas se juntam para ter lucro – afirmou.

As experiências de fusão anteriores demonstram que o consumidor não costuma ser beneficiado com esse tipo de operação, de acordo com Pó. Para ele, a concorrência é a única maneira de garantir que as empresas forneçam serviços de qualidade e preços razoáveis. O professor de marketing da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA USP), Marcos Campomar, é “otimista” com os possíveis resultados da união das duas empresas. Segundo ele, a nova companhia terá condições de oferecer produtos de melhor qualidade com preço menor.

A melhoria dos serviços seria consequência da melhor utilização dos equipamentos e da mão de obra das indústrias pertencentes a ambas as marcas. Na avaliação de Campomar, a unificação também permitiria "nivelar por cima" os padrões de qualidade.

O negócio ainda precisará ser aprovado pelos órgãos de defesa da concorrência no Brasil. Somadas, as empresas terão participação superior a 55% do mercado brasileiro em produtos como industrializados de carne e margarinas. Em itens como massas prontas, a fatia de mercado pode passar de 80%. O professor não descarta a possibilidade da existência de monopólio, pois a fusão irá combinar a força de penetração no mercado das duas empresas. “O que fará pressão sobre as empresas menores”, alertou Campomar. Nesse cenário, ele acredita que as outras empresas só teriam espaço entre as pessoas de renda mais baixa.

Quanto a demissões, Campomar acredita que devem ocorrer em níveis gerenciais, de maneira a adequar a estrutura administrativa. Ele não acredita em “demissões em massa”.

No que diz respeito aos fornecedores, Marcos Campomar prevê uma situação mais complicada. Segundo ele, com a concentração de mercado decorrente da fusão, a nova empresa teria mais poder de negociação e poderia exigir melhores condições de compra.

– Quando um comprador é forte, ele pode forçar o preço que ele quiser – explicou.

Para o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Wolmir de Souza, a situação dos produtores não deve mudar.

– A política deles é igual, não muda nada – afirmou. Segundo Souza, muitos produtores apenas prestam serviço para as grandes empresas do ramo de alimentos, que são donas dos produtos e dos insumos.

Souza se diz favorável à fusão, por acreditar que a nova empresa terá mais condições de abrir espaço no mercado internacional.

– Nós precisamos ser competitivos no exterior – disse. Ele espera que os novos ganhos, obtidos com as possíveis exportações “sejam distribuídos com os produtores”.

A Perdigão e a Sadia juntas são responsáveis pela absorção de cerca de 35% da produção de suínos de Santa Catarina, Estado de origem das empresas.

 

Fonte: Correio do Brasil