Por Joyce Pimentel e Tatiana Couto*
A semana foi de mudanças repentinas na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Tais alterações atingiram em cheio a região da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Vargens. No início da semana foi anunciada a troca de comando em 14 batalhões da Polícia Militar, inclusive no 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes).
O comandante Paulo Augusto do Couto Mouzinho, que estava há cinco anos a frente da corporação e deixa o batalhão do Recreio para assumir o 26º BPM (Petrópolis), passa o cargo para o tenente coronel Ricardo Quemento Lobasso, vindo do 7º BPM (São Gonçalo). A data para a passagem do comando estava prevista para ser publicada até o fim da semana no Boletim Interno da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Mas a mudança foi meteórica e na tarde de hoje (29/04) a cerimônia de troca de passagem de comandantes aconteceu.
Tudo começou após o comandante geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), coronel Gislo Pitta, anunciar a dança das cadeiras dentro dos batalhões. O motivo das mudanças pôde ser considerado uma vergonha para a questão de segurança pública do Rio. Há informações que o critério das mudanças foi a baixa produtividade dos antigos comandantes.
Dentro das mudanças confirmadas, na última semana, pelo secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a principal novidade foi o 1º Comando de Policiamento de Área, coronel Marcus Jardim, que passa a dividir o comando com o tenente-coronel Ruy Loury, que deixa o comando do 6º BPM (Tijuca), chefiado agora pelo tenente coronel Fernando Príncipe Martins, este ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e que estava na “geladeira” da PM desde que assinou o documento dos barbonos.
Mudanças no 31º BPM
Na região da AP-4 também há substituição. O 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) deixa de ser comandado pelo coronel Paulo Augusto do Couto Mouzinho, que estava à frente da corporação desde a época do governo Rosinha Garotinho, e passa a ser de responsabilidade do tenente coronel Ricardo Quemento Lobasso. Segundo a PMERJ, Quemento é mais operacional e já Mouzinho ao assumir o 26º BPM (Petrópolis) será, com certeza, menos requerido.
O tenente-coronel Ricardo Quemento Lobasso estava no comando do 7º BPM (São Gonçalo) há dois anos. O batalhão será assumido pelo coronel Mauro Gonçalves Teixeira, que ainda é o responsável pelo Comando de Policiamento em Áreas Especiais (CPAE).
O comando do 2º CPA também mudou. O coronel Lopes vai assumir o 3º CPA – responsável por seis batalhões da Baixada Fluminense – trocando de cargo com o coronel Roberto de Oliveira Penteado, conhecido pela sua linha dura de comandar.
Para esta unidade operacional especial vai o coronel Luiz Cláudio Calixto Barbosa, que estava no batalhão da Região Serrana, enquanto o tenente coronel Cláudio Lima Freire assume o BPVE, deixando o 39º BPM (Belford Roxo), onde assume o tenente coronel José Luiz Nepomuceno Marinho, que estava na DGP. Já o coronel Décio de Mello deixa o Laboratório Industrial Farmacêutico (LIF), que passa a ser comandando pelo tenente coronel Luiz Arthur Lutterbach Erthal.
Para fechar o pacote de mudanças, o novo comandante do 38º BPM é o tenente coronel Álvaro Sério Alves de Moura.
Apesar de tanta mudança, o coronel Davia, segundo homem da hierarquia, pego com a mão no auxílio-moradia, recebido indevidamente continua firme no posto de chefe do Estado Maior da PM.
Dois oficiais exonerados
O não combate às milícias e a suposta amizade entre o comandante de um batalhão com um ex-policial militar acusado de chefiar uma quadrilha de paramilitares podem ter sido as causas das exonerações de dois oficiais que estavam à frente de unidades da PM.
As decisões foram publicadas no boletim número 70 da corporação, de 24 de abril. O primeiro teria sido exonerado pela forma passiva com que vinha se comportando em relação à guerra entre a Liga da Justiça e o Comando Chico Bala – dois grupos que disputam o controle de várias regiões de Campo Grande, onde o oficial reside. O outro, por ter sido a favor da permanência na corporação do líder de um dos bandos.
À frente do 25º BPM (Cabo Frio) desde o governo de Rosinha Garotinho, o coronel Adilson Oliveira do Nascimento foi substituído pelo coronel Carlos Henrique Alves de Lima, que era comandante do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE). O coronel Adilson absolveu o então sargento Francisco César de Oliveira, o Chico Bala, acusado de chefiar o grupo conhecido como Comando Chico Bala.
Submetido a Conselho de Disciplina (CD), em dezembro do ano passado, o atual subsecretário municipal de Transportes de São Pedro da Aldeia, Chico Bala, acabou expulso pelo comandante geral da PM, coronel Gilson Pitta, três meses depois. O oficial contrariou o parecer do colegiado do batalhão de Cabo Frio e do então comandante da unidade, que pediam a permanência de Chico Bala na corporação.
Primeira mudança acontece no 31º BPM
E após a dança das cadeiras o troca-troca no comando na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) já começou. Na tarde de hoje (30/04) o coronel Paulo Augusto do Couto Mouzinho passou o comando do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) para o tenente-coronel Ricardo Quemento Lobasso.
Após a passagem de comando, a população da região da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Vargens, juntamente com as lideranças locais, querem saber como vai ficar a questão da segurança na região. Afinal, a onda de violência e de crimes como saidinha de banco, assaltos à residência e surgimento de milícias vêm crescendo constantemente.
O novo comandante, considerado linha dura pela própria cúpula da corporação, terá a missão de lidar com todos esses problemas e propor soluções de combate para tais ações marginais. Currículo para a função o tenente-coronel Quemento tem de sobra, já que o oficial contará com o apoio da comunidade e a cobrança também.
— Preparado com certeza estou para enfrentar tudo isso. Essa é a quinta oportunidade que tenho de assumir o comando de um batalhão — disse Quemento, que já teve uma breve passagem pelo 31º BPM no ano de 2003.
Apesar de uma breve conversa com o coronel Mouzinho sobre os problemas da região, o novo responsável pelo 31º não terá dificuldades no combate a violência. O tenente-coronel Quemento, que deixa o 7º BPM (São Gonçalo), já atuou no 2º BPM (Botafogo) e comandou com pulso firme a região que tem ao seu redor o Morro Santa Marta, Morro dos Cabritos e a Ladeira dos Tabajaras.
— Aquela área é considerada crítica devido à guerra entre os traficantes pelo poder das bocas-de-fumo. Ali foi feito um trabalho de inteligência e o resultado já pode ser visto pela população, já que o Santa Marta passou a ser controlado pela Polícia Militar — avaliou.
Divergindo da opinião do presidente do 31º CCS, o coronel Teixeira, que já comandou o 31º BPM de 1999 a 2003, afirma que os índices de violência na região tendem a diminuir.
— Comparando os índices criminais da Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes com o restante dos bairros a violência nesta região é muito menor e tende a diminuir mais ainda. Tudo isso é o efeito da ocupação da Cidade de Deus com a Unidade Pacificador onde 200 PMs e mais o Bope estão no local — avaliou.
Mudança necessária
Já o novo comandante, que se sente honrado pela indicação do Comando Geral da PMERJ, afirma que está disposto a enfrentar o novo desafio. Ao ser informado da cobrança e da participação das lideranças e da comunidade no que diz respeito a segurança pública, o oficial foi enfático.
— Com certeza farei o melhor possível e estou aberto a ouvir a população — disse.
A mudança no batalhão do Recreio é vista pelo presidente do 31º Conselho Comunitário de Segurança (31º CCS), Castrinho, como uma necessidade.
— Após cinco anos com o mesmo comandante em uma unidade há necessidade de mudança. Todo comandante chega com novas idéias e com certeza quem está de fora do problema vê as circunstâncias de outro ângulo — avaliou.
Apesar da mudança o presidente Castrinho deixa claro que a postura e as metas do 31º CCS não serão mudadas.
— Nossa linha de cobrança no setor de segurança não muda. Vamos continuar cobrando a construção da 42ª DP, as câmeras, já prometidas pelo secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame e tudo o que for referente a segurança — avisou; acrescentando que a presença do novo comandante nas reuniões mensais do 31º CCS também será bem vinda.
Na opinião de Castrinho o aumento da violência na região se deve ao sufocamento das ações policiais na Favela Cidade de Deus e nos morros Rocinha e Santa Marta.
— A ação intensificada da polícia nesses locais está fazendo com que a bandidagem venha procurar abrigo aqui na Zona Oeste. Consequentemente há aumento de delito nos bairros da Barra, Recreio e Vargens. Por isso queremos trabalhar junto com o novo comandante um melhor planejamento de segurança para essas regiões. Lógico que tudo isso contará com nosso apoio e das lideranças locais — finalizou.
Em sua despedida, o coronel Mouzinho lembrou que durante os cinco anos que esteve a frente da corporação a comunidade ajudou no combate a violência na região e fez o que foi possível para cumprir tal missão.
— Dei o meu melhor e não posso deixar de agradecer a todos os moradores e lideranças locais, pois vocês deram o exemplo dos deveres de um cidadão. Saio do comando com o orgulho de quem sempre aprende uma lição a cada dia. Desejo toda a sorte ao meu sucessor – despediu-se.
A cerimônia de passagem de comando, realizada hoje (29/04), no pátio do 31º BPM contou com a presença do comandante geral da PMERJ, coronel Gilson Pitta, de diversos oficiais da corporação vindo de outros batalhões e do delegado titular da 16ª DP (Carlos Augusto). Já as lideranças locais marcaram presença em peso, entre os presentes estavam o presidente do 31º Conselho Comunitário de Segurança, Castrinho; o presidente da Amor, Cleomar Paredes; o presidente da Associação de Imprensa da Barra da Tijuca (AIB), Manoel Lopes; os representantes da Fambarra, Álvaro Costa e Luiz Igrejas; da Associação do Bosque de Marapendi, entre outras lideranças locais.
* repórter especial AIB – [email protected] / editora-chefe AIB – [email protected]
Fonte: AIB
