Os atos de vandalismo ocorridos durante as manifestações populares na capital fluminense foram discutidos durante audiência pública promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio de Janeiro. “Se as organizações e jovens conseguem identificar as pessoas envolvidas em atos de vandalismo e roubo nas manifestações, porque os policiais não conseguem?” Esta pergunta foi repetida por várias pessoas na audiência.
O advogado Renato Teixeira de Sousa, um dos voluntários que atendem os manifestantes presos, declarou que observou nas ruas a organização de pequenos grupos que se destacam dos manifestantes, mas que nunca viu a polícia atuando para identificar os integrantes.
“Como que a polícia se comporta com relação a identificação das pessoas, tendo em vista que a gente consegue identificar claramente? Inclusive, no Leblon [na última quarta-feira], a gente viu que foi um grupo, em torno de 15 pessoas, que foi andando do Leblon até o lado da delegacia e foi ateando fogo a cada esquina, em uma coisa quase que orquestrada. O grupo se destacou demais da manifestação, e todo mundo percebeu que a polícia nem sequer chegou [até eles]”.
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, considerou que o Estado Democrático de Direito tem sofrido graves violações com a atuação da polícia contra os manifestantes. Membro do Subcomitê de Prevenção da Tortura (SPT) das Nações Unidas, Margarida Pressburger, questionou porque a inteligência das forças de segurança não identifica o que chamou de “horda de vandalismo”. “Eu pergunto à polícia: de onde vem essa horda? Quem são? Por que estão lá? Quem os infiltrou ali? Porque eu tenho certeza que eles não são manifestantes”, disse.
A representante da Secretaria de Segurança (Seseg), Luciana Patrício, declarou que o comando das forças de segurança está discutindo a reconstrução das diretrizes de atuação da polícia diante dos recentes acontecimentos, mas não comentou a questão da identificação dos responsáveis pelo vandalismo.
“Estamos convencidos que é possível, sim, e não há opção contrária a oferecer segurança sem respeito absoluto aos direitos humanos. Em primeiro lugar, partimos de um ponto comum que essas manifestações são absolutamente legítimas, não é o que está em discussão. O que está em discussão também não é o uso da força, e sim o abuso. E também estamos de acordo. Estamos conversando cotidianamente com a polícia sobre como podemos encontrar uma resposta que não seja nem o excesso nem a omissão”, disse.
O coronel Robson Rodrigues da Silva, chefe do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, disse que o momento tem sido muito difícil de compreender, e que as manifestações pegam de surpresa vários setores da sociedade, inclusive a Polícia Militar.
“Reconhecemos que não é tão fácil, o movimento tem características muito diferentes das quais nós prevíamos, das quais nós estávamos acostumados a vivenciar em momentos de manifestação. Há muito tempo que nós não víamos movimento nem no tamanho nem na violência pontual da forma como tem surgido e também da forma como a polícia tem agido com maior contundência. Isso nos preocupa a todos, ninguém quer aqui valorizar esse tipo de procedimento”, declarou.
Ele reconheceu que o protocolo usado pela PM está “completamente inadequado” e ressaltou que a ação policial precisa ser trabalhada para que as prisões corretas possam ser feitas. Em nome da corporação, o coronel pediu desculpas por equívocos cometidos pelas forças policiais.
Agência Brasil