O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Rio que investiga os acidentes ocorridos no sistema aquaviário do estado, deputado Gilberto Palmares (PT), anunciou que a CPI irá realizar em abril uma série de audiências nos locais onde há grande demanda de passageiros por este tipo de transporte. A primeira delas irá ocorrer no próximo sábado (04/04), em Paquetá. Depois, no dia 6, a comissão irá a Niterói; no dia 29, o encontro será na Ilha Grande; e, no dia 30, Palmares estará em São Gonçalo, onde vai discutir a implantação de uma linha de embarcações no município. “A discussão em São Gonçalo será muito importante para desafogar a superlotada linha de Niterói. Também vamos ouvir os usuários da Ilha do Governador, mas estamos em contato com a associação de moradores para definirmos uma data”, declarou o petista, que também conversou, nesta quinta, no Palácio Tiradentes, com passageiros insatisfeitos.
Um dos casos que mais chamou a atenção do parlamentar foi o de Alexandro dos Santos Morais, vítima do acidente ocorrido em novembro de 2008 na estação das barcas em Paquetá. Morais teve múltiplas fraturas no dorso de seu pé direito e quase rompeu os ligamentos do joelho quando a rampa flutuante de acesso à estação afundou. Na ocasião do acidente, a empresa Barcas SA não prestou nenhum tipo de assistência ao acidentado. “Faço tratamento fisioterapêutico na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, e gasto, até hoje, dinheiro com medicamentos. Ainda ando com auxílio de muletas e, apesar de, na minha profissão de operador vídeotape, poder trabalhar sentado, ainda enfrento dificuldades de locomoção”, lamentou. O advogado de Morais, José Carlos Ribeiro, entrou com uma ação na Justiça contra a Barcas SA, depois de não ter tido sucesso em suas tentativas de negociação.
O advogado também acusou a empresa de ter acelerado a reconstrução da rampa para inviabilizar a perícia no local. “As queixas do meu cliente foram ouvidas por uma funcionária da concessionária que não tinha nenhum poder de gerência ou de decisão. O seguro ao consumidor, previsto por lei, também não foi cumprido. O único benefício que lhe foi oferecido foi a gratuidade da passagem”, ironizou Ribeiro. Outro usuário da linha de Paquetá, Paulo Bernardo disse que apenas 10% dos frequentes acidentes das barcas tornam-se conhecidos. Ele tem o hábito de tirar fotos ou filmar as travessias que faz toda a semana e afirmou que registrou muitos problemas, tais como atraso nas saídas das embarcações, demora das viagens, marinheiros usando uniformes de oficiais superiores, plásticos cobrindo o quadro de energia, podendo causar curto-circuito por conta de goteiras, e embarcações à deriva. “Se esse material for mostrado na próxima reunião, vai servir como prova e facilitará os trabalhos da CPI”, exclamou.
Dirigente do sindicato dos bancários, Maria Aparecida Souza afirmou que a linha Charitas-Praça XV também apresenta problemas, como a falta de embarcações para o tamanho da demanda, de assentos para idosos e a de marinheiros paramédicos nas viagens. “Já presenciei um comandante solicitando algum passageiro, pelo alto-falante, para atender um tripulante que passava mal. Casos como este não são raros”, denunciou. O vice-presidente da CPI, deputado Comte Bittencourt (PPS), que é usuário da linha, concordou que a presença de um paramédico é fundamental e obrigatória e defendeu melhorias na infrestrutura das embarcações. “As viagens das novas barcas são muito mais rápidas e os assentos mais confortáveis, apesar ainda da falta de ventilação e de algumas superlotações” observou.
Fonte: ALERJ