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Barulho põe em risco a audição de brasileiros

Furadeiras, britadeiras, buzinas, entre outros itens muito comuns no cotidiano, aliados a falta de conhecimento das normas do trabalho, da consulta ao médico ocupacional e ao otorrinolaringologista, e o descaso com equipamentos de segurança estão entre as principais causas da surdez ocupacional, um dos mais graves problemas ocasionados em ambientes de trabalho no Brasil.

A perda auditiva induzida por ruído (PAIR), decorrente da exposição prolongada a elevados níveis de pressão sonora, é a mais comum entre os trabalhadores concentrados nas áreas da construção civil, indústrias e no trânsito, com os consequentes barulhos dos motores de ônibus e caminhões, buzinas e o conjunto de ruídos das grandes cidades. Silenciosa no início e com
consequências “barulhentas” em longo prazo, a perda auditiva não ganha a mesma atenção que os acidentes de trabalho, mas o que muita gente não sabe é que este problema pode levar a quedas, falta de concentração e outras adversidades.

O otorrinolaringologista Daniel Okada, que atua na área de medicina ocupacional e participa da Campanha Nacional da Saúde Auditiva (www.saudeauditiva.org.br), da Sociedade Brasileira de Otologia, alerta sobre os problemas que a exposição a ruídos no trabalho pode trazer à saúde. “Além de causar perda auditiva, pode acarretar outros problemas como zumbido, dificuldade de concentração, alterações do sono e perda da capacidade produtiva”, diz Okada.

O médico alerta também sobre os problemas no organismo, que são ainda mais graves. “O ruído pode causar aceleração da frequência cardíaca e respiratória, alteração da pressão arterial, dilatação das pupilas, aumento do tônus muscular e estresse”, explica. A correta utilização dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individuais) como plugs intra-auriculares ou tipo concha são uma das melhores formas de amenizar a intensidade do barulho no trabalho. Mas, prevenir a PAIR e o barulho excessivo são possíveis com iniciativas e interação entre empregador, trabalhador e profissionais através das seguintes ações:

Empregador: implantar, em sua empresa, Programas de Conservação da Audição (PCA), que fazem o gerenciamento audiométrico, controlam a exposição e protegem o trabalhador individual e coletivamente. Os programas educam e instruem periodicamente todos os envolvidos, desde o trabalhador até o diretor-presidente e monitoram anualmente o desempenho de todas as etapas do próprio programa.

Trabalhador: cumprir rigorosamente todas as normas de segurança; evitar a exposição extra-ocupacional (o ruído social ou uma segunda ocupação), pois as exposições se somam; participar ativamente da implementação do PCA, com colaboração direta, críticas e sugestões; cuidar da própria saúde, evitando outras afecções que prejudiquem sua audição ou que o torne mais predisposto aos efeitos do ruído; colaborar e apoiar colegas de trabalho que já sejam portadores de alguma perda auditiva, no desempenho de suas funções.

Profissionais que atuam na empresa: reivindicar a implantação do PCA, cumprir todas as etapas dos programas de conservação; atualizar-se periodicamente no conhecimento do problema e das implicações normativas e legais; atuar com ética e isenção, em suas ações dentro dos programas, em sadia convivência com outros profissionais envolvidos.

Normas melhoraram relação médica no trabalho

A relação entre medicina do trabalho e Otorrinolaringologia em prol da assistência ao trabalhador melhorou após a implantação das Normas Regulamentadoras NR7 e NR9 do Ministério do Trabalho, que permitiram o diagnóstico precoce e medidas de prevenção. “Estamos vivendo um bom momento no controle da perda auditiva ocupacional, dispomos de informação e de legislação suficientes para administrar com competência os programas de conservação de audição disponíveis. Se alguma perda auditiva ocupacional ocorrer, certamente houve alguma falha na execução do programa”, diz o otorrinolaringologista Everardo Andrade, da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).

Para ele, a maior dificuldade de regulamentação ocorre com as empresas de pequeno porte, que não disponibilizam recursos para executar os programas. De difícil controle, o ruído social, que se soma ao ocupacional, é o problema a ser resolvido, principalmente nos grandes centros urbanos. “O grande problema, hoje, é com o ruído social, que afeta não só os trabalhadores, mas toda a sociedade”, diz.

Mais sobre a PAIR:

– Manifesta-se predominantemente nas frequências de 6, 4 e 3 kHz, e, com agravamento da lesão, estende-se às frequências de 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 kHz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas;

– Trata-se de uma doença predominantemente coclear, na qual o portador da PAIR relacionada ao trabalho pode apresentar intolerância sons intensos, zumbidos, além de ter comprometida a inteligibilidade da fala, em prejuízo do processo de comunicação;

– A PAIR relacionada ao trabalho é, principalmente, influenciada por ruídos, tempo de exposição e suscetibilidade individual;

– A PAIR relacionada ao trabalho não torna o ouvido mais sensível a futuras exposições;

– A PAIR relacionada ao trabalho pode ser agravada pela exposição simultânea a outros agentes, como por exemplo produtos químicos e vibrações;

– A PAIR relacionada ao trabalho é uma doença passível de prevenção e pode acarretar ao trabalhador alterações funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade de vida.

O ruído não está presente apenas no ambiente de trabalho. Ele está nas ruas, bares, boates e até mesmo invisível, com o aumento do número de pessoas que utilizam fones de ouvido com celulares, iPods e outros aparelhos eletrônicos em meio ao já insuportável barulho das grandes cidades. Cuidar da audição no trabalho, no cotidiano, e alertar amigos e familiares é preciso. Caso contrário, a PAIR e muitos outros males que não deveriam nem mesmo existir continuarão a afetar e contagiar pessoas. Por muito tempo.

Fonte: ABN News