O processo de modernização das salas de cinema no Brasil foi debatido durante o Festival do Rio e será tema do ShowEast, uma conferência global de empresas exibidoras e distribuidoras, que começa nesta segunda-feira, dia 24, em Miami. Os estúdios e os distribuidores são os maiores interessados na mudança por causa da redução de custos, enquanto o sistema em 35 milímetros exige gastos de impressão das cópias em película e de transporte, o digital funciona com o simples envio de um arquivo para uma sala de cinema pela internet. Hoje, apenas 14% das salas nacionais têm projetores digitais, num patamar bem abaixo dos 48% da média mundial.
Atualmente, as salas digitais do Brasil colocam o país no mesmo patamar da África. Nos EUA, por exemplo, o percentual deve chegar a 66% no fim do ano e mais de 90% em 2013, prazo dado pelos estúdios americanos para cancelar o lançamento de cópias em película. No processo de digitalização, o Brasil está atrás ainda da média da América Latina (20%), da Europa Ocidental (51%), da Europa Oriental (33%) e da Ásia (38%). A preocupação do mercado é que, no ritmo brasileiro, será impossível converter todas as mais de 2.300 salas do país até 2015, ano previsto pelos estúdios para a substituição completa da película no mundo. “O planeta está usando computadores, enquanto o Brasil insiste em manter suas máquinas de escrever. É essa a comparação”, afirma Howard Kiedaisch, CEO da empresa europeia Arts Alliance. “Todos os estúdios vão deixar de lançar cópias físicas rapidamente, e os fabricantes de películas vão fechar suas fábricas. Não haverá filmes para quem não passar logo da película para o digital”.
O assunto também vem sendo debatido com força no governo brasileiro. A Agência Nacional de Cinema (Ancine), órgão federal que regula e fomenta a atividade audiovisual, estuda lançar uma linha de crédito para agilizar o processo junto aos exibidores.
Além de baratear os gastos com a distribuição dos filmes, a modernização das salas traz outras vantagens para o setor. Um arquivo digital não sofre arranhão como ocorre com as cópias em película. Com ele, é possível, ainda, que o distribuidor tenha o controle exato de quantas vezes um filme foi projetado e evite, assim, que algum exibidor faça sessões sem repartir corretamente os lucros de bilheteria com o restante da cadeia. “O tema é estratégico para o Brasil, e vamos adotar ações de fomento e providências regulatórias”, promete Manoel Rangel. “Só não vejo razão para alarmismo. O mercado brasileiro é importante para os estúdios e não será deixado para trás. Se demorarmos mais para modernizar as salas, ainda haverá cópias físicas para o Brasil”.
Acontece que, mesmo no caso das 14% de salas já modernizadas, a migração ocorreu apenas por causa da chegada de filmes em 3D, que exigem um projetor digital: de olho no lucro maior de ingressos do 3D, os grandes exibidores acabaram bancando a digitalização de parte dos cinemas. É pouco para um país que tem se consolidado como um dos principais mercados de cinema do mundo.
Em até quatro anos, a sala de cinema sem projeção digital deve se juntar a um grupo de excluídos que já inclui o disco de vinil, o telefone discado, o videocassete e a máquina de escrever. Será, portanto, um item relegado a nichos de colecionadores e saudosistas.
Fonte: Ancine