Início Plantão Brasil Capa da "Placar" com ex-goleiro Bruno revolta feministas, que criam versão alternativa

Capa da "Placar" com ex-goleiro Bruno revolta feministas, que criam versão alternativa

 

Esta semana, a revista Placar abriu no site a íntegra da reportagem de capa do mês: uma entrevista com o ex-goleiro do Flamengo Bruno, condenado a 22 anos e três meses pelo assassinato da ex-amante Eliza Samudio. A entrevista, porém, revoltou feministas e gerou polêmica nas redes sociais. Para elas, faltou contexto na matéria e o ex-jogador foi transformado em vítima.
 
 
Na capa, Bruno pede “Me deixem jogar”. A ex-modelo Eliza Samudio tinha 25 anos quando desapareceu em 2010. Ela era mãe do filho recém-nascido do ex-goleiro do Flamengo, que não reconhecia a paternidade da criança. Em 2013, o jogador foi considerado culpado pelo homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado da jovem, que nunca teve o corpo encontrado. 
 

Em protesto, a publicitária Rosiane Pacheco e a psicóloga Cyntia Beltrão criaram uma capa com a foto da ex-modelo sobre a chamada “eu queria ter visto meu filho crescer”. Publicada no Facebook e replicada por blogs feministas, a imagem já teve mais de 1000 compartilhamentos. 

Crédito:Reprodução
Capas da revista e das internatutas
 
 

Maurício Barros, diretor de redação da Placar, defende a publicação. Segundo ele, a revista está segura de que fez um jornalismo de qualidade e de que o ex-goleiro é um personagem relevante. “Ele é famoso na história do futebol, tinha um fato novo ligado ao esporte [ele assinou contrato com um time e tenta voltar aos gramados enquanto cumpre a pena] e o mérito da entrevista na cadeia ser a primeira para uma publicação do meio impresso [desde que está preso, ele só conversou com a TV Record, em 2013]. Isso é jornalismo”, afirmou.

 
 
Mesmo assim, ele acredita que o debate é válido e que o jeito de protestar das internautas foi “interessante e criativo”. “Quando a crítica é respeitosa eu defendo, apoio e estimulo. Mas a interpretação de que a revista está defendendo o criminoso é equivocada. Quem lê, percebe”, diz.
 

Questionada, a psicóloga, uma das autoras da imagem, afirma que as duas leram a reportagem antes de fazer o protesto e defende que a matéria transforma Bruno em vítima. “É diferente colocar na capa ‘o ex-goleiro Bruno quer voltar a jogar’ e “me deixem jogar”. Parece que estão impedindo ele de jogar, que ele é vítima, quando ele não está jogando porque cometeu um crime”, critica. “A revista dá destaque porque ele clama um direito [trabalhar] que ele negou a Eliza, de viver, criar o filho, e à mãe dela, que não pôde enterrar a própria filha”, completa Rosiane.

 

Apesar de achar válido e necessário que a revista de futebol faça uma entrevista como essa, Cyntia acredita que o grande erro foi não contextualizá-la. Para ela, a publicação “fugiu de sua responsabilidade social ao não dar voz ao outro lado” que, sugere, poderia ter sido o histórico do crime, a família de Eliza e a acusação contra o ex-goleiro. 

 

“Sabendo que os leitores são homens, que a gente vive numa sociedade machista, a entrevista ficou solta. Espero que tenha sido um lapso”, diz Cyntia. 

 
 
Segundo Barros, a publicação esperava diferentes reações pela escolha do personagem. “Não é a primeira vez que um criminoso vira capa de jornal, de revista ou aparece na TV. Teve quem criticou e quem parabenizou pela ousadia. Só não esperava repercussão do movimento feminista”, explica.
 

Ele, que soube do protesto pelo Twitter, após publicação de duas mulheres, retuitou o post com a imagem e respondeu defendendo a matéria. “Muitas reações são rasas do ponto de vista de compreensão, pois às vezes a pessoa não lê tudo e julga pela capa. A Placar em nenhum momento defende o Bruno. E isso está absolutamente claro na reportagem”, reitera.

 
 
Debate é positivo
A montagem foi criada no mesmo dia em que a matéria foi divulgada. Rosiane viu uma imagem pequena feita por Cyntia e resolveu transformar “numa capa de verdade”. Surpresas com a repercussão da imagem, elas acreditam que a capa deu voz à vítima e levantou o debate.
 
“Achei que só ia circular entre o grupo de amigos e alguns blogs feministas, mas já tomou proporções maiores. Se tem algo de positivo nisso tudo é suscitar o debate”, diz Cyntia.

 
 
A reportagem na íntegra está disponível no site da Placar; o texto e a imagem de protesto no perfil da publicitária no Facebook
 
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