“Eu queria mostrar que a música e a cultura brasileiras são riquíssimas e inspiradoras. Elas tocam a alma, contribuem com o aprendizado e ajudam a ampliar os horizontes dos alunos”. É assim, de forma apaixonada, que a professora Vânia Aparecida Silva Corrêa Pinto fala sobre o projeto “Brasileirinho – Os tons da aquarela cultural de nosso país”, que desenvolve no Colégio Estadual Vicente Jannuzzi, na Barra da Tijuca, desde 2005.
A docente, que dá aulas de história e filosofia na instituição há 16 anos, criou o projeto com o objetivo de incentivar a leitura entre os alunos do ensino médio e também difundir a música, a literatura e a cultura do Brasil. O ponto de partida foi levar para as salas de aula o álbum “Brasileirinho”, da cantora Maria Bethânia – disco que inspirou o nome da iniciativa – e utilizar suas canções como ferramentas de análise histórica e cultural.
– Escolhi esse CD da Bethânia porque remonta toda a trajetória cultural do Brasil, desde o Descobrimento até os dias atuais. Cada canção fala sobre uma época específica da nossa história. No final das aulas tradicionais, eu colocava uma música do álbum para os alunos escutarem, distribuía cópias da letra, e os incentivava a produzirem um texto ou até uma pintura sobre o tema – explica Vânia.
E não tardou para a iniciativa chegar ao conhecimento de Maria Bethânia, que é considerada, pela professora, a madrinha do projeto.
– Eu mandei um e-mail despretensioso para a cantora, falando que usava as letras do CD “Brasileirinho” como inspiração nas aulas. Rapidamente, sua produção me retornou dizendo que ela queria conhecer a mim e aos alunos. Nós visitamos a gravadora e fomos convidados para assistir aos shows dela. A Maria Bethânia também me convidou para participar de uma palestra na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e até hoje mantemos contato – diz a professora, que a cada ano, elege um artista e um escritor nacional como tema de análise do projeto “Brasileirinho“. Em 2012, os contemplados são Jorge Amado e Caetano Veloso .
Os alunos do colégio – moradores das comunidades de Cidade de Deus, Gardênia e Curicica, em sua maioria – abraçaram a ideia do projeto desde o início, e produzem poesias, músicas e pinturas sobre os trabalhos dos artistas nacionais e sobre as temáticas indígena e afrobrasileira.
– Antes das aulas da professora Vânia eu não conhecia nada de MPB (Música Popular Brasileira) e nem sabia muita coisa sobre a cultura afrobrasileira. Além de deixarem as aulas mais interessantes, esse projeto me agregou muito conteúdo e melhorou minhas notas – diz David Martins, de 18 anos, aluno do segundo ano do Colégio Estadual Vicente Jannuzzi.
Sua colega de turma, Isadora Rodrigues, de 16 anos, também elogia a empreitada:
– É um projeto muito interessante. Ensina muito e dá oportunidade para os alunos desenvolverem seu lado artístico. Por conta do “Brasileirinho”, acontecem saraus na escola e já recebemos até a visita de um grupo de dança afrobrasileira.
Uma conquista importante do projeto foi a produção especial de um livro com poemas dos alunos, que chegou a ter um exemplar doado para a Academia Brasileira de Letras.
E parece que a empreitada está rendendo outros frutos na área literária e acadêmica. Segundo a professora, uma ex-aluna do colégio também lançou um livro de poesias e conquistou uma bolsa de estudos em uma universidade nos Estados Unidos.
– Ela conseguiu uma bolsa na área de ciências sociais e publicou uma obra de poesias, com o apoio de uma ONG. Ela é um exemplo de que a educação anda lado a lado com o sucesso – elogia a professora.
O projeto pedagógico e cultural rendeu à Vânia Aparecida os prêmios Cultura Viva, em 2007, do Ministério da Cultura, e Professores do Brasil em 2008 e 2011, concedidos pelo Ministério da Educação:
– Esses prêmios me deixaram muito feliz porque são um reconhecimento do meu trabalho como professora. Tenho muito orgulho do projeto “Brasileirinho” e do progresso dos meus alunos.
Governo do Rio