O pão simboliza união, partilha e transformação – conceitos que ganham novos contornos para os alunos com deficiência que participam da oficina de panificação oferecida pela Escola Municipal Azul e Branco, em Realengo, Zona Oeste da cidade. A iniciativa capacita para o mercado de trabalho jovens com mais de 16 anos que tenham dificuldades de aprendizado.
O curso, que é oferecido gratuitamente e tem duração média de seis meses, foi desenvolvido por professores da própria escola e tem sido uma saborosa oportunidade para rapazes e moças darem os primeiros passos em direção à independência e a uma efetiva inserção social. Tão gostosa que, embora o foco seja nos alunos com deficiência, o projeto também se estende aos demais alunos, numa receita que torna ainda mais real a inclusão.
A diretora da escola, Waléria de Freitas, relata que o curso nasceu há nove anos, quando ela assumiu a direção da unidade e observou que os alunos adolescentes da Classe Especial, ao completarem o Ensino Fundamental, não tinham qualquer perspectiva de inserção como pessoas produtivas. Daí surgiu a idéia de criar um mecanismo na escola dando a eles oportunidade de aprender algo que, de fato, mudasse tal realidade.
– A escola apresentou o projeto à Prefeitura do Rio e o Município comprou o maquinário necessário para que implantássemos a padaria. Além disso, os professores que trabalham no projeto receberam capacitação pelo o Senai – conta ela.
Waléria salienta que, além de propiciar contato com a profissão, o projeto também auxilia no processo de aprendizagem das matérias tradicionais, sobretudo português e matemática. A equipe do curso é formada por uma merendeira e quatros professoras, as quais desenvolvem a parte didática. Durante as aulas elas ensinam, por exemplo, a entender e estruturar textos com base nas receitas, além de explicar conceitos matemáticos por meio das noções de pesos e medidas.
– A nossa aula na padaria se divide em duas partes: na primeira os alunos executam as receitas e, enquanto a massa vai ao forno as professoras aproveitam para trabalhar todo o conteúdo que seria dado em sala de aula –explica Waléria.
A diretora acrescenta que a opção por mesclar alunos foi tomada logo no começo do trabalho, já com a meta de estimular a interatividade entre jovens com e sem deficiência.
– O projeto é voltado para a integração dos alunos especiais, mas nosso objetivo não é só trabalhar com eles. Nós recebemos qualquer aluno que tenha dificuldade de aprendizagem, com defasagem de série/idade e que estude à noite e ainda não possue uma qualificação profissional. Os especiais precisam ter esse convívio com todas as pessoas – destaca.
É justamente a troca de experiências o principal ingrediente para que o curso de panificação da E.M. Azul e Branco abra novos horizontes aos participantes, como abriu para Leoni Alberto da Silva Rodrigues. Ex-aluno da classe especial do colégio até os 16 anos, há seis meses ele retornou à escola para participar do curso e hoje, com 18 anos, é um dos mais brilhantes alunos do projeto. Leoni se especializou no preparo de biscoitos de areia de Cascais, que já é sucesso de vendas na vizinhança da casa dele, em Realengo.
Waléria ajuda o rapaz tímido a contar sua história e se emociona ao relembrar que, quando Leoni concluiu o Ensino Fundamental, teve que cursar o Ensino Médio à noite em outra unidade, muito distante de sua casa e sem profissionais preparados para lidar com seu tipo de deficiência. No entanto, isso motivou a mãe de Leoni a não apenas acompanhar o filho e ajudá-lo a aprender, mas também concluir os estudos junto com ele. Hoje o rapaz sonha em ser jogador de basquete, mas é com os pés no chão que revela qual a principal lição aprendida na oficina:“pensar no meu futuro e da minha família“.
A oficina de panificação da Escola Municipal Azul e Branco – vinculada à 8ª Coodernadoria de Regional de Ensino (CRE) da Secretaria Municipal de Educação – disponibiliza 32 vagas em duas turmas, uma no turno da manhã e outra, à tarde. Os interessados podem obter mais informações na secretaria da própria escola, que fica na Avenida Frederico Faulhaber n°303, ou pelo telefone 2301-2692.
Fonte: Prefeitura do Rio