Uma rede de solidariedade mantida pelo projeto Bombeiro Amigo do Peito ajuda a recuperar recém-nascidos internados na UTI Neonatal do Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz. O projeto promove a coleta em domicílio do excesso de leite materno de mulheres que desejam participar e distribui as doações para o IFF ou outros hospitais, caso haja demanda.
A coleta é realizada cinco dias por semana com rotas programadas e atinge, em média, 300 doações por mês. O cadastro é feito através do S.O.S. Amamentação (08000-268877), serviço que orienta as mães a tirar e armazenar o leite.
Segundo a capitão Marília Fraia, coordenadora do projeto, as candidatas passam por uma anamnese – bateria de exames para checar o estado de saúde, a ausência de doenças infecto-contagiosas ou uso de drogas e medicamentos prejudiciais ao recém-nascido, passíveis de serem transmitidos pelo leite – antes de doar.
– No geral, as voluntárias permanecem ativas por um período de dois ou três meses, mas algumas mulheres chegam a doar por até um ano. Os perfis são variados, temos doadoras empresárias, médicas, dentistas, advogadas, donas de casas, enfim, mulheres que desejam ser solidárias – afirmou a capitão Fraia.
Na primeira coleta, a doadora providencia o recipiente para estocar o alimento, que deve ser de vidro com tampa plástica. Nas doações seguintes, o próprio Corpo de Bombeiros fornece os coletores.
– O serviço é totalmente gratuito. A lactante armazena o leite no pote, que deve ser identificado com nome e a data da retirada, e coloca no freezer ou congelador. Toda vez que quiser coletar, ela despeja o líquido sobre o leite congelado, até completar o frasco. Uma vez por semana, a equipe do Banco de Leite entra em contato e faz a coleta – explicou a terceiro-sargento bombeira Sônia Faria Rodrigues, integrante do Bombeiro Amigo do Peito.
O leite resfriado tem validade de 15 dias e é levado para o Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira, onde passa por inspeção, análise e pasteurização. Depois do processo, o período útil é estendido para seis meses. O alimento é distribuído entre os recém-nascidos internados na UTI Neonatal do IFF e também pode ser enviado a outros hospitais.
Em 2011, foram coletados 2.745,6 litros. Mais que colher leite humano, o projeto visa desenvolver ações educativas de apoio ao aleitamento materno, formando mães multiplicadoras, incentivando e orientando lactantes quanto à amamentação de seus filhos. O resultado final é a redução da mortalidade infantil, uma das principais metas da Política Nacional de Defesa Civil.
Mãe de três filhos, Claudia Mendonça Salles, doou pela primeira vez há seis anos. Quando deu à luz o primeiro filho, Gustavo, a engenheira percebeu que tinha produção excessiva de leite e foi orientada, na própria maternidade, a doar. O gesto foi repetido depois do nascimento de Camila, de 3 anos, e Bernardo, que nasceu em novembro de 2011.
– Nos primeiros cinco meses depois do nascimento do Gustavo e da Camila, eu tinha muito leite e doava o excedente. A produção caiu quando voltei a trabalhar. Agora com o Bernardo, serão sete meses de licença, e espero fazer a coleta durante todo esse tempo. Acho loucura ter em excesso e não doar. É como fazer um banquete e jogar tudo no lixo – disse Claudia.
A engenheira também faz questão de divulgar o serviço para amigas e familiares.
– O telefone do S.O.S. fica no meu celular e sempre dou para as pessoas que conheço. Não dá trabalho, enquanto eu amamento num seio, o aparador contém o leite que vaza do outro. Além disso, a coleta é feita em casa, o que facilita ainda mais – afirmou Claudia.