A originalidade e pioneirismo crítico do sociólogo Chico de Oliveira foi o destaque na abordagem de especialistas durante uma mesa-redonda promovida pelo Centro Celso Furtado na sexta-feira, 21, em comemoração aos 40 anos de lançamento do seu livro “Crítica à razão dualista”, considerado um marco para o desenvolvimento do país. Estudantes e professores lotaram o Auditório Manoel Maurício, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parceira na organização do evento.
Composta por Reinaldo Gonçalves (UFRJ), Tania Bacelar (UFPE), Cibele Rizek (USP), Mauro Iasi (UFRJ) e com mediação de Rosa Freire d’Aguiar, a mesa destacou a capacidade de Chico de Oliveira, há 40 anos, de perceber as mudanças, as falhas e os consensos sobre Estado e mercado, a centralidade da legislação trabalhista e o papel da agricultura na época. “A crítica de Chico é ‘cepalina’ e marxista ao mesmo tempo. Ele conseguiu colocar, como nunca visto antes, aspectos centrais fundamentais como a discussão do que seria ‘mercado livre’ e intervenção do Estado. Ele mesmo faz a pergunta – a quem serve tudo isso? É uma obra essencial para a história econômica e política do país”, disse Cibele Rizek.
Para Mauro Iasi nenhum outro texto alcança sua dimensão: “Não é por acaso que 40 anos depois estamos aqui homenageando o Chico pela sua capacidade de ser representativo por uma polêmica relevante, de não se limitar à mera repetição da mesma questão, por incluir perfeitamente essa obra do debate do seu tempo”, disse. Reinaldo Gonçalves, que disse já ter lido a obra por três vezes ao longo desses 40 anos e se encantar sempre por uma nova observação, destacou o método: “Chico chama a atenção pela criatividade, pelo talento, pelo método com rigor analítico, pela coragem de criticar o economicismo”.
A presidente do conselho deliberativo do Centro Celso Furtado, Tânia Bacelar, destacou o diálogo de Chico com a teoria do desenvolvimento: “Era uma luz que se colocava sobre as especificidades do capitalismo, era preciso entender o mundo em que vivíamos. Ele teve uma visão dualista importante sobre o atrasado e o moderno se alimentarem e até hoje isso nos traz um momento de reflexão”. Ela ainda apontou questões atuais, que se referem à tese do autor. “Estamos próximos de ser a sexta economia do mundo e ainda temos uma estrutura agrária muito arcaica. Temos ainda trabalho escravo na agricultura mais moderna do país. São desafios que ainda temos que entender”, finalizou.
Marcelle Parente | IAA Comunicação e Eventos