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Estudo revela problemas sérios na usina nuclear Angra 3

 

As organizações não governamentais Urgewald e Greenpeace apresentam hoje um estudo técnico sobre a usina nuclear Angra 3 elaborado por dois cientistas brasileiros. O estudo analisa as condições de segurança e o perigo de um acidente nuclear na usina. Investiga ainda se foram integrados mecanismos de segurança adicionais depois do acidente de Fukushima.

 

O estudo tem com objetivo avaliar se a usina está protegida adequadamente contra eventos externos como terremotos, deslizamentos e enchentes. Também responde à questão da segurança dos planos de emergência para a população local.

 

“Muitos fatores levaram ao desastre em Fukushima. A catástrofe foi consequência de hipóteses erradas, local inadequado, técnica obsoleta e falta de fiscalização. Estes fatores de risco existem também para Angra 3”, diz Barbara Happe, da ONG Urgewald, que já trabalha há muitos anos com o assunto.

 

Francisco Corrêa, um dos autores do estudo, explica: “No licenciamento de Angra 3, a Eletronuclear apresentou dados inadequados e não foram utilizados dados apropriados para o reator, como características locais, condições meteorológicas e topográficas. Portanto, este parecer da Eletronuclear não serve para avaliar os reais riscos do projeto e planejar cenários realistas de emergência.”

 

O estudo também menciona que a localização de Angra dos Reis não atende aos critérios que a própria Eletronuclear está usando atualmente para identificar locais adequados para futuras usinas nucleares. Por estes critérios, são inadequados para a construção de usinas nucleares áreas propensas a deslizamentos de terra ou perto de cidades densamente povoadas. Angra 3, no entanto, está localizada em uma área com encostas instáveis ​​e perto de uma cidade densamente povoada, Angra dos Reis. “Portanto, os novos critérios do governo são uma admissão involuntária de que a localização de Angra não é adequada para uma usina de energia nuclear.”,  diz Corrêa.

 

Além disso, Angra 3 apresenta um projeto ultrapassado, que não cumpre vários requisitos atuais de segurança desenvolvidos após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Nem sequer atende totalmente aos requisitos de segurança aplicáveis ​​para seu reator de referência original Grafenrheinfeld na Alemanha, construído a partir de 1974. A contenção de Angra 3 tem apenas a metade da espessura desse reator, proporcionando assim menos proteção em caso de eventos como uma explosão de hidrogênio ou um impacto de avião.

 

Este ponto é enfatizado por Tobias Riedl, especialista em assuntos nucleares do Greenpeace: “O reator nuclear de Angra 3 operará com uma tecnologia de segurança totalmente ultrapassada. É por isso que na Alemanha todos os reatores deste tipo em breve serão desativados. Ao incentivar e apoiar a construção deste reator (que já virou sucata antes mesmo de ser concluído) com uma garantia financeira bilionária, a chanceler Angela Merkel demonstra que não tirou nenhuma lição de Fukushima.”

Por isso, as ONGs Urgewald e Greenpeace acham irresponsável a atitude do governo alemão de decretar o fim do programa nuclear no próprio país, mas apoiar a construção de uma usina nuclear insegura em outros países com um crédito de exportação.

 

As ONGs afirmam: “As lições de Fukushima e deste estudo são que não deveria ser aprovado um crédito de exportação para Angra 3. Além disso, é necessário que o governo pare de aplicar/garantir este tipo de subvenção para a exportação de bens nucleares.”

 

Contato:

 

Barbara Happe, Urgewald, +49 172-6814474 (sob este número pode contatar o Dr. Corrêa também)

 

 

Sobre os cientistas e a garantia Hermes:

 

Os autores do estudo são o professor Célio Bermann, do Instituto de Electrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, e Francisco Corrêa, que já tem feito vários estudos técnicos para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre outras instituições, também sobre Angra 3.

 

Para apoiar a exportação de bens produzidos na Alemanha, o governo alemão concede garantias financeiras de exportação, chamadas de “garantias Hermes”. Estas garantias servem como seguro para indenizar os exportadores alemães que não receberem os créditos concedidos ao cliente no exterior, seja por motivo comercial ou político.

 

A finalidade política destas garantias é de abrir novos mercados em países em desenvolvimento para a indústria de exportação alemã. Em fevereiro de 2010, o governo alemão aprovou, em princípio, uma garantia Hermes de exportação no valor de 1,3 bilhão de euros. Entretanto, ainda não foi transformado em uma garantia definitiva. ONGs alemães lutam para que isso não aconteça mais depois do acidente em Fukushima.

 

 

 

Ana Carollina Leitão

Assessora de Comunicação

Fundação Heinrich Böll Brasil

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