Chegou a hora dessa gente empreendedora mostrar seu valor. No sábado (24/03), oito comerciantes da área gastronômica ofereceram suas melhores especialidades no primeiro Festival Delícias do Complexo do Alemão, que atraiu centenas de visitantes para a Estação do Teleférico do Adeus. O festival é resultado do trabalho feito com dez comerciantes pela Ong Frente Humana de Intervenções Organizadas (Fhio), parceira do Governo do Estado nos projetos sociais do PAC comandados pelo Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP-Rio), vinculado à Secretaria da Casa Civil.
– Por meio de um censo realizado na comunidade, mapeamos as áreas com maior potencial de crescimento. O setor de alimentação é um deles. Identificamos alguns estabelecimentos que tinham algum diferencial em seus serviços e começamos a trabalhar com eles. Selecionamos dez comerciantes, mas hoje temos apenas oito participando do festival com 20 pratos diferentes, típicos da comunidade – explicou a coordenadora do PAC Social, Ruth Junberg.
Entre os pratos oferecidos estavam o Big Favela, sanduíche de carne, queijo, molho e salada, que pode ser montado a gosto do freguês. O responsável pela criação é Jorge Ribeiro que, ao lado da esposa, Nilda Ribeiro, comanda o Doce Lar, casa de doces que funciona há um ano e quatro meses na Estação Itararé, mas cujo forte mesmo são os hamburguês.
– Esse festival está sendo ótimo para mostrarmos o que temos de bom na nossa comunidade. Qualquer projeto que venha para acrescentar é bem-vindo. Melhoramos muito nossa forma de trabalhar e estamos tendo mais demanda – contou Jorge, que garantiu ter o melhor pudim de leite de todo o Complexo.
De acordo com a coordenadora da Ong Fhia, Júlia Sobreira, os comerciantes passaram por três etapas de treinamento. Primeiro, a capacitação, com cursos de higiene e conservação de alimentos. Depois, oficinas de artesanato e customização. E, por fim, a criação de uma identidade visual.
– Nossa preocupação era oferecer alguma coisa que fosse viável para os comerciantes. O objetivo é proporcionar o desenvolvimento sustentável. Por isso, fizemos oficinas para ensiná-los a criar luminárias, bancos de madeira e outras peças de artesanato que vão servir para decorar os estabelecimentos. O Alemão se tornou um ponto turístico e a qualificação dos comerciantes visa atender esse público. O festival é a primeira experimentação que estamos fazendo do nosso trabalho – explicou Julia.
Festival atrai visitantes pela primeira vez no Alemão
A estratégia deu certo. Atraídos pelo evento, muitas pessoas foram ao Complexo do Alemão pela primeira vez. Foi o caso das amigas Rose Mendes e Célia Borges, que saíram da Ilha do Governador para participar do evento. Elas aprovaram a feijoada preparada pela Dona Maria David, da Pensão Doce Menor, uma das atrações do menu, e aproveitaram para tirar fotos da paisagem.
– É a primeira vez que venho a uma comunidade. Fiquei surpresa, não imaginava que estivesse tão bem estruturada. Antes da pacificação, não teria coragem de vir – contou Rose.
A mesma opinião era compartilhada por Marli Vargas, moradora da Penha, que soube do evento pelo jornal e foi ao Alemão para conferir de perto a qualidade da comida que é feita ali.
– Estou gostando muito, é a primeira vez que venho aqui. Estou achando tudo ótimo – contou a visitante que provou o cachorro-quente do Big Mendes, lanchonete que há um ano é sucesso de público sob a batuta da proprietária Ilsa Marta Mendes.
As delícias produzidas pela Cooperativa das Mulheres também agradaram aos paladares. Bolo de milho, cuscuz e tapioca de coco com doce de leite foram as tentações que as amigas Lúcia Teresa Rodrigues, Valquíria Siqueira e Ilva Morrison levaram para o festival. A cooperativa foi criada por elas há um ano, na esteira da pacificação, com incentivo dos cursos oferecidos pelo PAC Social.
Intercâmbio entre comunidades
O festival teve a colaboração, inclusive, de outras comunidades. Regina Tchelly, da Babilônia, trouxe quiche de casca de abóbora e bolo de chocolate com calda de maracujá. Cozinheira profissional, ela promove o projeto Favela Orgânica, que oferece aulas de aproveitamento de alimentos. Ela começou o curso em sua casa e já capacitou 20 mulheres. No próximo mês, ela vai iniciar o mesmo curso para homens e crianças.
– Minha preocupação é com o círculo do alimento. Não me interessa só cozinhar. Aprendi por conta própria e passei a ensinar a outras mulheres, para que sejam multiplicadoras do conhecimento. Não suporto o desperdício de comida – contou Regina.
Fonte: Governo do Rio