Pelo menos 120 mil pessoas residentes em sete comunidades carentes do Rio de Janeiro passaram a viver com segurança, longe do tráfico e das milícias, em 2009. Agora, a expectativa do Governo do Estado é praticamente triplicar esse número até o final de 2010, passando a 300 mil pessoas, com a ampliação do número de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) a todas as regiões da cidade.
Em pouco mais de um ano, o projeto mais importante na área de segurança pública dos últimos tempos no Estado do Rio começa a mudar a realidade e a cara das favelas cariocas.
À frente do modelo inédito de policiamento que levou a paz às comunidades, a Secretaria de Segurança não está sozinha e, para alcançar os objetivos do projeto, conta com a parceria de praticamente todas as secretarias de estado – Educação, Saúde, Cultura, Assistência Social e Direitos Humanos, Ciência e Tecnologia, Trabalho e Renda, Desenvolvimento Econômico e Habitação – para o desenvolvimento de programas de inclusão social e regate da cidadania.
– Com a instalação da UPP Pavão-Pavãozinho/Cantagalo fechamos o ano de 2009 com mais de 120 mil pessoas livres do poder paralelo, enquanto ao mesmo tempo, as tropas de elite da PM já iniciaram operações nos morros Cabritos e Tabajaras, em Copacabana, para pacificar essas comunidades antes da instalação física da unidade pacificadora – explicou o governador Sérgio Cabral.
O plano do governo do estado é pacificar 100 comunidades até o fim da atual administração. Para isso, mais de três mil novos policiais serão formados somente no primeiro semestre de 2010. Neste mesmo período, as UPPs chegarão à Zona Norte da cidade, somando-se às unidades do Batam, em Realengo; Cidade de Deus, em Jacarepaguá; Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme; Dona Marta, em Botafogo; e Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana e Ipanema.
Cabral explicou que a política de segurança pública, de defesa da cidadania e responsabilidade social, mas sem descartar o enfrentamento das milícias e do tráfico quando necessário, implementada no Estado do Rio é uma mudança radical de conceito: um choque de cultura e de comportamento.
– Acabou aquele tempo do policial subir, enfrentar e voltar para casa com a sensação de estar enxugando gelo. Recentemente, uma operação na Cidade de Deus foi marcante. Com a comunidade pacificada, a polícia civil entrou com mandato de prisão contra alguns marginais e não houve troca de tiros, como acontece em qualquer lugar da cidade onde não tem o poder paralelo tomando conta. Temos uma estratégia de ação e as UPPs também chegarão na Zona Norte a alguns morros da Tijuca, Engenho Novo e Méier ainda no primeiro semestre de 2010 – garantiu Cabral.
No dia 18 de dezembro os moradores do Morro Dona Marta, em Botafogo, comemoram a instalação da primeira UPP. A exemplo do que hoje também ocorre em outras comunidades pacificadas, o novo policiamento representa, além de segurança, a libertação dos moradores do domínio do tráfico.
– Sem dúvida, desde o início do policiamento até hoje muita coisa mudou, principalmente o trato do morador também com a polícia militar. No início era uma dificuldade muito grande. Era tido como algo normal que o morador não quisesse, por exemplo, ser abordado. Para ele, a simples abordagem policial a moradores era algo truculento. O procedimento faz parte do trabalho policial e, ainda que conheçamos a todos os residentes no Dona Marta, vamos continuar fazendo nosso trabalho – explicou a capitã Priscilla Azevedo, comandante da UPP Santa Marta, confirmando a mudança de realidade e comportamental da comunidade em um ano de muito trabalho, investimentos e principalmente, pacificação.
Antes da instalação das unidades pacificadoras, as comunidades carentes que vão receber o policiamento são ocupados pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar e a companhia de cães. A ideia, segundo o comandante do Bope, coronel Paulo Henrique Moraes, é levar a informação direto aos moradores para que haja conhecimento do que será realizado nos morros durante o período de ocupação.
– Falta na população a confiança da continuidade do trabalho porque temem a volta do tráfico e, com isso, sofram algum tipo de represália. Até que nós consigamos mostrar o que realmente vai ser feito, demora um certo tempo – disse Paulo Henrique Moraes.
Nas favelas pacificadas em Ipanema e Copacabana, por exemplo, o tráfico lucrava de R$ 200 a R$ 300 mil por semana, não só com a venda direta de drogas, mas com outras atividades ilícitas. Com a transformação dessas áreas e a presença de uma nova realidade econômica, é esperada a geração de empregos e até a inclusão social de jovens anteriormente envolvidos no crime.
A pacificação de comunidades na Zona Norte, por exemplo, exige um efetivo maior de homens. As ocupações em 2010 devem começar no mês de maio, com 3.300 policiais formados para trabalhar em UPPs – 1.300 sairão em maio e mais 2.000 estarão se formando em julho. Para o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a instalação das UPPs, a formação de policiais e a alteração da lei de progressão de pena trouxeram excelentes resultados nos índices de criminalidade. Segundo o ele, em 2009 registrou-se uma considerável diminuição dos incidentes criminosos nas áreas onde existem unidades pacificadoras.
– Os resultados são bons. Mas, nossa maior vitória será terminar com a questão da territorialidade. Não temos a pretensão de acabar definitivamente com o tráfico porque ele está em qualquer cidade, mas estamos acabando com a questão do território onde as facções impunham um regime. – destacou Beltrame. lembrando que as unidades policiais estão mudando a qualidade das demandas das populações das comunidades atendidas.
Fonte: Governo do Rio