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Italo Ferreira é campeão mundial na final com Gabriel Medina no Billabong Pipe Masters

O potiguar conquistou o título decidido na segunda final 100% brasileira nos tubos de Pipeline que fechou a temporada 2019 do World Surf League Championship Tour no Havaí

OAHU, UNITED STATES - DECEMBER 19: Italo Ferreira of Brazil winning his maiden WSL World Title at the 2019 Billabong Pipe Masters after winning the final at Pipeline on December 19, 2019 in Oahu, United States. (Photo by Kelly Cestari/WSL via Getty Images)

O dia 19 de dezembro de 2019 entra na história do World Surf League Championship Tour, com uma final brasileira decidindo o título mundial no maior palco do esporte no Havaí e o novo campeão é Italo Ferreira. O potiguar surfou os melhores tubos para vencer Gabriel Medina na bateria que fechou a temporada 2019, com um show brasileiro em Pipeline e Backdoor. O Brasil é agora tetracampeão mundial e o troféu de melhor surfista do mundo, pela primeira vez, vai para a Região Nordeste do país, para Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, junto com o de campeão do Billabong Pipe Masters em homenagem à Andy Irons.

“Eu nem consigo acreditar que consegui, é irreal, não sei nem o que falar”, disse Italo Ferreira, muito emocionado. “Eu vim para Pipe há um mês para treinar, testar as pranchas e este troféu significa muito para mim. Foram grandes baterias hoje aqui, com o Gabriel (Medina), o Kelly (Slater), o Yago (Dora), o Peterson (Crisanto). Vocês todos me dão muita energia e eu apenas tento fazer o meu melhor a cada dia. Antes de começar o evento, fiquei olhando pro troféu, pensando se eu conseguiria ganhar e ele agora está aqui nas minhas mãos. Foi um ano realmente diferente e só tenho que agradecer à Deus por tudo”.

Italo também falou em português no pódio, para a transmissão ao vivo da WSL, sobre os outros dois brasileiros que chegaram disputando o título no Havaí: “O Gabriel (Medina) e o Filipe (Toledo) são, de certa maneira, responsáveis pelo o que eu sou hoje. Eu dedico todos os meus dias, os meus treinos, para ganhar desses caras, claro que os outros também que estão no circuito. Eu venho me dedicando muito por um objetivo e hoje acabei cumprindo isso, Graças à Deus. Os meus dias ajoelhados, meus dias de oração, dias que Deus me mostrou que era possível, valeram a pena e hoje consegui. Esse título dedico para minha avó e o meu tio, que se foram, mas devem estar em um lugar melhor agora lá em cima (choro)”.

DECISÃO HISTÓRICA – Numerologia a parte, mas, curiosamente, essa final histórica valendo título mundial no dia 19 de dezembro de 2019, era a nona da carreira de Italo Ferreira no CT e a 24.a de Gabriel Medina, que tem o dobro de temporadas na divisão de elite da World Surf League. A bateria que decidia o campeão de 2019, começou com Italo pegando a primeira onda aos 40 segundos, ganhando na remada forte com Medina, para pegar um belo tubo de backside nas direitas do Backdoor, que valeu 7,83.

Medina ficou com a prioridade de escolher a próxima onda. Os dois estavam lado a lado de novo e ele deixou passar uma pro Italo pegar outro tubo nas esquerdas de Pipeline, ainda mandar uma rasgada e um aéreo na finalização, para ganhar 6,17. Era como se o potiguar tivesse dado dois dribles em Medina, que respondeu com um tubaço mais profundo em Pipe, saindo na baforada com nota 7,77, para se manter na briga do título mundial.

Italo logo pega um canudo de frontside também em Pipeline, fica entocado atravessando a primeira placa, passa pela segunda, mas na saída a onda pegou o potiguar, que cai. Já Medina completa o dele, porém foi rápido e só rendeu 4,50. A próxima série demorou alguns minutos para surgir e Medina entrou num tubaço, mas fechou e a prioridade ficou para o Italo, quando o relógio marcava 20 minutos para o término do Billabong Pipe Masters.

SEGUNDO TEMPO – O potiguar ficou na frente na primeira metade da final, mas a disputa seguia aberta no segundo tempo, para quem surfasse os melhores tubos em Pipeline ou Backdoor. Uma série entrou 5 minutos depois e Italo escolheu sua onda, rodou um tubaço em Pipeline, mas ficou lá dentro. Medina pega a seguinte e faz o tubo, mas era uma onda menor e a nota saiu 5,17. Só que ele precisava de 6,24 pontos para superar o potiguar.

Medina ganha a disputa pela prioridade na remada de volta ao outside e Italo pega uma onda que ele deixa passar, bota pra dentro do tubo e sai antes de fechar, porém não troca o 6,17 da segunda nota computada. Ele volta a pegar outra onda deixada por Medina, o tubo foi bem melhor e finalizou com um aéreo full rotation perfeito, com grande amplitude, mostrando sua habilidade para ganhar 7,73 e abrir 7,80 de vantagem, quando restavam 7 minutos.

Na primeira tentativa, Medina erra na escolha da onda, que fechou rápido. A prioridade passa para o líder e o jogo mudou, com Medina pegando as que Italo deixa passar. Ele entrou em mais uma que fechou de novo, pegou outra fraca, mas fica ativo ao lado do Italo, que prefere manter a prioridade para uma série de ondas maiores. Só que veio uma calmaria e os dois sentados lado a lado, quando entrou uma série no último minuto, mas não mudou o placar de 15,56 a 12,94 pontos, que deu o título mundial de 2019 para Italo Ferreira.

“Eu quero agradecer a todos que torceram por nós, para o Brasil”, disse Gabriel Medina. “Essa onda é realmente especial e consegui surfar bons tubos. Na final não tive muita chance, mas contra do John John (Florence) veio bastante onda boa e foi muito especial, porque ele é um dos melhores do mundo e gosto muito de competir com ele. Quero agradecer também todos os locais daqui, por nos deixarem surfar essa onda. Esse é um dos meus lugares favoritos no mundo, estou orgulhoso com meu desempenho e já ansioso para o próximo ano”.

FINAIS BRASILEIRAS – Foi um momento épico, emblemático, que consagra o Brasil como uma das maiores potências do esporte. Esta é a segunda final brasileira no templo sagrado do esporte. A primeira foi em 2015, quando Gabriel Medina, campeão mundial de 2014, tinha garantido o segundo título brasileiro seguido para Adriano de Souza, ao derrotar Mick Fanning na primeira semifinal. Medina se tornava então, o primeiro brasileiro campeão da Tríplice Coroa Havaiana, mas Mineirinho foi o primeiro a vencer o Billabong Pipe Masters.

Agora, a vitória valia o título mundial e Italo e Medina já vinham brilhando nos tubos 6-8 pés da quinta-feira, para chegar na batalha final em igualdade de condições. Italo começou o dia ganhando os duelos brasileiros que abriram as oitavas e as quartas de final. Na semifinal, surfou dois tubaços e não deu qualquer chance ao Mr. Pipeline, Kelly Slater. Medina também ganhou por “combination”, o confronto de bicampeões mundiais com John John Florence nas quartas de final. No surfe, é como uma goleada no futebol, com seu oponente precisando de mais de dez pontos, ou seja, de uma combinação de duas ondas para vencer.

USANDO A REGRA – Antes, Medina deu um golpe de mestre em Caio Ibelli, usando bem o benefício da regra na bateria das oitavas de final, que foi bem fraca de ondas. Gabriel tinha a maior nota, 4,23 apenas, mas Caio não conseguiu surfar nada. Ele só pegou ondas que fecharam rápido e estava com a prioridade no final, quando entrou uma para ele que poderia rodar um tubão. Era a chance do Caio, porque precisava de pouco, só que Medina entrou na sua frente, cometendo uma “interferência”. A penalidade anula a segunda nota computada, mas ele sabia disso e acabou vencendo por 4,23 a 1,13 pontos das duas notas do Caio.

“Eu apenas joguei o jogo”, disse Gabriel Medina. “Faltavam 20 segundos para terminar a bateria e eu sabia que minha maior nota me garantia a vitória. Não sei se o Caio poderia conseguir o 5 e pouco que precisava, por isso fui na onda e fiz a interferência. Eu apenas tive que jogar o jogo. Às vezes, você pode usar as regras se precisar e foi o que fiz”.

Na etapa passada, em Portugal, Medina tinha chance de ser tricampeão mundial antecipado, mas perdeu para Caio fazendo uma interferência também no último minuto, achando que a prioridade era dele. Depois, deu altos tubos contra John John Florence e Gabriel surfou dois de forma incrível, para fazer um novo recorde de 17,63 pontos na quinta-feira, com notas 9,23 e 8,40. O havaiano só surfou um bom no Backdoor que valeu 7,50 e perdeu por “combination”. Nas semifinais, Medina achou um tubaço nota 8,00 para vencer o americano Griffin Colapinto por 13,00 a 7,10 pontos e confirmar a decisão do título mundial na grande final.

CAMINHO DA VITÓRIA – Italo tinha acabado de derrotar Kelly Slater, que ainda tentava tirar a vaga nas Olimpíadas de John John Florence, mas precisava vencer o Billabong Pipe Masters. Slater entrou na bateria com o terceiro título de campeão da Tríplice Coroa Havaiana garantido, pela vitória de Griffin Colapinto sobre o taitiano Michel Bourez. Só que ele não conseguiu surfar nenhum tubo contra o Italo, que pegou um incrível que arrancou 8,60 dos juízes. Italo nunca perdeu para Slater e essa venceu fácil, 14,77 a apenas 2,57 pontos do Mr. Pipeline.

Italo estava sempre sendo o primeiro a competir, deixando a pressão para Medina que entrava depois, precisando passar também. Na primeira bateria do dia, as ondas não estavam muito boas, mas surfou o suficiente para derrotar Peterson Crisanto por 11,84 a 4,23 pontos. O nono lugar do paranaense no Pipe Masters, já bastava para confirmar sua permanência na “seleção brasileira” que vai disputar o CT 2020. Nas quartas de final, outro duelo brasileiro e os tubos apareceram para Italo Ferreira e Yago Dora fazerem os recordes do dia até ali. O potiguar ganhou 8,83 no melhor, que decidiu a vitória por 15,66 a 13,50 pontos do catarinense.

CAMPANHA DO CAMPEÃO – A final no Billabong Pipe Masters foi a terceira seguida de Italo Ferreira na reta final da temporada. Ele só não venceu a decisão contra o francês Jeremy Flores no Quiksilver Pro France em Hossegor. Mas, foi bicampeão consecutivo no MEO Rip Curl Pro Portugal em Supertubos e agora vence um dos títulos mais cobiçados do mundo, do Pipe Master. Assim, Italo termina o ano como começou, comemorando vitória no pódio. Ele ganhou a primeira etapa do ano na Austrália, tirando a lycra amarela do Jeep Leaderboard do campeão mundial de 2018, Gabriel Medina, no Quiksilver Pro Gold Coast.

Depois, parou nas quartas de final do Rip Curl Pro Bells Beach e o havaiano John John Florence pegou a lycra amarela com a vitória. Italo foi então defender o título conquistado no Corona Bali Protected na Indonésia, mas parou na terceira fase e até descartou este resultado das nove etapas que são computadas no ranking final da WSL. Na volta à Austrália, ficou nas quartas de final novamente em Margaret River e foi mal no Brasil, jogando fora o 17.o lugar no Oi Rio Pro em Saquarema, quando se distanciou da briga do título mundial.

Mas, Ítalo recuperou folego na etapa seguinte, quando fez a primeira final brasileira com Gabriel Medina em 2019, perdendo essa do Corona Open J-Bay nas direitas da África do Sul. Aí foi Medina que começou a entrar forte na corrida pelo tricampeonato, ficando em segundo lugar nos tubos de Teahupoo no Taiti e sendo bicampeão nas ondas da piscina do Surf Ranch, quando tirou a lycra amarela do Jeep Leaderboad do então líder, Filipe Toledo.

Quando chegou a perna europeia, onde Medina sempre se destacou, quem brilhou foi Italo Ferreira. O potiguar chegou em sua primeira final em Hossegor e voltou a subir no ranking, mesmo com Jeremy Flores conquistando a primeira vitória francesa no Quiksilver Pro France. Já em Portugal, pegou tubos e mandou aéreos incríveis nas ondas de Supertubos, para ser bicampeão consecutivo no MEO Rip Curl Pro e assumir a liderança no ranking. Medina tinha até chance de ser tricampeão mundial antecipado, mas cometeu um erro na bateria brasileira contra Caio Ibelli e a decisão do título ficou adiada para o Havaí.

DOMÍNIO BRASILEIRO – Ítalo Ferreira fecha o ano do seu primeiro título mundial com 66,4% de aproveitamento dos pontos dos nove resultados computados. Foram três vitórias de 100.000 dólares e 10.000 pontos em cinco finais, dois vice-campeonatos, dois quintos lugares nas quartas de final, um nono lugar e um 17.o lugar. Das onze etapas do World Surf League Championship Tour 2019, nove tiveram brasileiros decidindo o título.

O domínio verde-amarelo começou com Italo Ferreira ganhando a primeira do ano na Gold Coast. Depois, Filipe Toledo foi vice-campeão na segunda em Bells Beach e aí vieram duas seguidas só com surfistas de outros países nas finais. Mas, a bandeira do Brasil subiu no pódio em todas as outras, até a consagração na segunda final verde-amarela no Havaí.

Depois da “perna australiana”, Filipe Toledo manteve a invencibilidade nas ondas de Saquarema com o tricampeonato no Oi Rio Pro, igualando um recorde histórico de vitórias em etapas no Rio de Janeiro. Na seguinte deu final brasileira, com Gabriel Medina vencendo Italo Ferreira em seu primeiro título no Corona Open J-Bay, onde Filipe Toledo tinha sido bicampeão em 2017 e 2018. Medina ainda foi finalista de novo nos tubos de Teahupoo, mas perdeu para Owen Wright, com o australiano vingando a derrota do ano passado.

Mas, o bicampeão mundial foi o rei no Surf Ranch mais uma vez, com sua segunda vitória na piscina de ondas idealizada por Kelly Slater. Filipe Toledo ficou novamente em segundo lugar e perdeu a liderança do ranking para Medina. Depois, só deu Italo Ferreira, sendo vice-campeão no Quiksilver Pro France, bicampeão do Meo Rip Curl Pro Portugal e campeão do Billabong Pipe Masters em homenagem à Andy Irons, que valeu o título mundial para o potiguar na segunda final brasileira com Gabriel Medina em 2019.

ELITE DE 2020 – O Billabong Pipe Masters também fechou a lista dos 32 surfistas que vão disputar a temporada 2020 do World Surf League Championship Tour. A única mudança entre os 22 primeiros do ranking que são mantidos na elite, foi o catarinense Yago Dora tirando o paulista Deivid Silva da lista. Mas, ambos já tinham garantido seus nomes entre os dez indicados pelo WSL Qualifying Series. Com a troca, Yago se classificou pelo CT e Deivid pelo QS, com o australiano Morgan Cibilic ficando com a última vaga, pelo 11.o lugar no ranking.

A Austrália foi quem mais se reforçou para o CT 2020, passando a igualar o número de brasileiros, que vinham sendo maioria absoluta entre os top-34 nas duas últimas temporadas. Cada país tem dez garantidos e podem ter onze, caso a WSL ofereça os convites por contusões para Adriano de Souza e Mikey Wright, o que ainda não foi oficializado. Aí o Brasil ficaria com o mesmo número de onze surfistas da maioria na elite em 2018 e 2019.

NOVIDADES – As novidades na “seleção brasileira” de 2020 são as voltas dos paulistas Caio Ibelli, Alex Ribeiro e Miguel Pupo. Eles irão substituir o catarinense Willian Cardoso, o paulista Jessé Mendes e o cearense Michael Rodrigues, que não conseguiram vaga em nenhuma das duas listas classificatórias e terão que disputar o WSL Qualifying Series no ano que vem. Os sete que continuam na divisão de elite, são os campeões mundiais Italo Ferreira e Gabriel Medina, Filipe Toledo, Peterson Crisanto, Yago Dora, Jadson André e Deivid Silva, com outro campeão mundial, Adriano de Souza, podendo ser o 11.o, se receber o convite da WSL.

A Austrália também pode ficar com onze surfistas, caso Mikey Wright ganhe o wildcard de contusão, já que ficou de fora a maioria das etapas, como Mineirinho. Os australianos sempre foram maioria entre os tops e perderam esse status para o Brasil nos dois últimos anos. Agora, já igualaram os dez garantidos para 2020. Em 2019 eram oito e só Soli Bailey saiu, além do contundido Mikey Wright. Mas, ganharam quatro das dez vagas do QS, como o Brasil, com Jack Robinson, Ethan Ewing, Connor O´Leary e Morgan Cibilic, sendo as novidades no time.

Essas três vagas a mais foram tiradas do Havaí e da França. Os havaianos tinham quatro integrantes e ficaram só dois, John John Florence e Seth Moniz. A França perdeu Joan Duru e dois países saíram da elite esse ano, a Itália do Leonardo Fioravanti e a Nova Zelândia do Ricardo Christie. Essas duas vagas ficaram para o campeão do QS, Frederico Morais, na volta de Portugal, e com Matthew McGillivray, subindo para dois o número de sul-africanos. Já os quatro dos Estados Unidos, um do Japão e um do Taiti, são os mesmos de 2019.

VAGAS OLÍMPICAS – Na quinta-feira decisiva do Billabong Pipe Masters em homenagem à Andy Irons, também foram definidas as últimas vagas para a estreia do surfe nas Olimpíadas de Tokyo 2020 no Japão. Só restavam duas e não houve mudanças, pois Kelly Slater não conseguiu tirar John John Florence do time norte-americano e nem Jake Paterson superar Julian Wilson na briga pela segunda vaga da Austrália.

Todos os dez indicados pelo ranking masculino da World Surf League, subiram ao pódio do Billabong Pipe Masters, antes da premiação dos finalistas. Os campeões mundiais Italo Ferreira e Gabriel Medina vão disputar medalhas para o Brasil, junto com a gaúcha Tatiana Weston-Webb e a cearense Silvana Lima. Os outros classificados foram Jordy Smith pela África do Sul, Kolohe Andino e John John Florence pelos Estados Unidos, Kanoa Igarashi pelo Japão, Owen Wright e Julian Wilson pela Austrália e Jeremy Flores e Michel Bourez pela França.