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Museu Nacional recebe exposição Dino in Rio

De boca e braços abertos, o Pycnonemosaurus nevesi dá as boas-vindas. A imagem desse dinossauro carnívoro brasileiro, com metade do corpo em 3D, saindo de um grande painel à entrada da Dinos in Rio 2009, já nos dá uma ideia do que traz a exposição. Entre 25 a 30 de agosto, o Museu Nacional será o cenário em que réplicas e pranchas de ilustrações mostrarão não apenas animais da pré-história, como também a arte que, com base em rigor científico, nos permite visualizar como eles seriam.

Dinos in Rio, na verdade, reúne três eventos num só. Além da exposição, haverá uma mostra virtual e o II Congresso Internacional de Arte Paleontológica, que traz o tema da paleoarte a debate, com palestras sobre a história, as técnicas, as dificuldades de se reconstituir animais extintos e a utilização da biomecânica, que permite que os animais reproduzidos ganhem vida. E como dinossauros sempre foram um grande apelo nas telas – Spielberg está aí mesmo que não nos deixa mentir –, uma das palestras abordará exatamente essa relação da paleoarte com o cinema.

– A paleoarte é o elo de ligação entre a ciência e o público. Ao interpretar e transformar em arte o que está na cabeça do paleontólogo, ela permite ao leigo visualizar e entender o resultado de uma pesquisa, aquilo que a ciência já descobriu. Tanto que, na profissão, tanto há artistas plásticos, como é o meu caso, que trabalham junto com paleontólogos quanto paleontólogos que procuram se aprofundar no trabalho artístico – explica Maurílio Oliveira, do Museu Nacional, um dos 26 paleoartistas, com trabalhos na exposição e um dos organizadores do evento.

Como ele faz questão de enfatizar, nesse tipo de arte, a relação com ciência é estreita. Tanto que os trabalhos estão sempre atrelados a projetos de pesquisa e cada detalhe da reconstituição de um determinado animal obedece ao que, com base nos achados, os pesquisadores já puderam descobrir sobre suas características.

Na exposição, o visitante terá muito o que ver.
– Fazem parte do congresso, brasileiros, argentinos e um português. Como a Argentina é um polo forte da paleontologia, também é um país expressivo na paleoarte", fala Maurílio. Portanto, é do argentino Ugo Paillos, por exemplo, a reprodução de um Tupandactilus, pterossauro brasileiro reconstituído com técnicas de animatronic, que permitem que ele bata as asas, como se estivesse voando, abra o bico e emita som. Outro argentino, Carlos Papolio, está expondo ilustrações e esculturas.

– Mas o que mais chama a atenção é sua técnica digital de mesclar ilustrações do animal com fotografias, para mostrar o ambiente real. O que é bastante difícil porque clima e plantas são bastante diferentes ao longo do tempo.

Embora pequeno, com cerca de 80 cm, uma das réplicas mostra, em tamanho real, um Microraptor gui, dinossauro carnívoro, que usava suas quatro asas para planar pelos céus da China durante o período cretáceo (há 121 milhões de anos). A reprodução, feita por Orlando Grillo, paleontólogo e artista do Museu Nacional, foi possível a partir da doação por pesquisadores chineses de uma cópia do fóssil do animal.

– Pela ossatura era possível ver que havia registro de penas. Para a reconstituição, foram implantadas penas verdadeiras de aves de porte semelhante – diz Maurílio.
O Microraptor ganha maior importância ao sabermos que, na linha de evolução das espécies, foi o precursor das aves.

– E não os pterossauros, como muita gente acredita. Enquanto os pterossauros desapareceram, esses dinos foram se adaptando; seus dedos encurtaram e os braços se tornaram mais longos, dando origem às asas. Seus ossos se tornaram mais leves, ele ganhou penas e desenvolveu capacidade endotérmica, ou seja, passou a controlar a temperatura corporal. E a partir dele, surgiram as aves.

Na mostra, a réplica ainda não exibida do busto de um Scorpiovenator, mostra como seria o terópode de cerca de 1,60m, que viveu há 90 milhões de anos e deve seu nome – caçador de escorpiões – ao fato de seus fósseis haverem sido encontrados na Patagônia argentina, região desértica onde proliferam escorpiões.

– Mas, apesar do nome, trata-se na verdade de um carnívoro, do mesmo grupo do Pycnonemosaurus – fala Maurílio.

Estarão em exibição ainda réplicas de um Santanaraptor; da cabeça em tamanho real de um Angaturama limai. O próprio Maurílio está expondo ilustrações e esculturas de todas as épocas e continentes, procurando retratar 150 milhões de anos de evolução. Entre as réplicas que reconstituiu, está a de um filhote de Carnotauro, ou touro carnívoro. Com aproximadamente 50cm, trata-se de um dinossauro que apresenta uma curiosidade: tem chifres.

Quem não puder visitar pessoalmente a exposição, poderá fazer uma visita virtual. Será, na verdade, a primeira mostra do gênero, em 3D, na América Latina. Para tanto, será preciso entrar no endereço www.dinosvirtuais.museunacional.ufrj.br , a partir de 25 de agosto, e começar o passeio pelos salões do museu.

Com tecnologia VRML/3D, será possível não apenas visualizar as imagens, mas manipulá-las, observando cada peça por diferentes ângulos. Para isso, as peças do acervo – as já exibidas e as ainda inéditas da Coleção de Paleontologia – foram digitalizadas com equipamentos do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), que faz escaneamento em terceira dimensão, e do próprio museu.
Para possibilitar sua visualização, é preciso instalar um plug-in, disponibilizado no próprio site da exposição Dinos Virtuais. O projeto é resultado da parceria com outras unidades da UFRJ, como Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação (Latec) e do Laboratório de Métodos Computacionais (Lamce), do patrocínio do CNPq, do apoio do INT e do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Cenpra), de Campinas.

Seja nas reconstituições ao vivo, nas imagens virtuais ou nas palestras, o grande tema do evento é a paleoarte. E como volta a enfatizar Maurílio, "essa é uma arte que não existe sem o comprometimento com a ciência".

 

Fonte: Faperj