A história das últimas quatro décadas da música popular brasileira, de 1967 a 2007, é tema do livro MPB – A alma do Brasil (ed. Imprinta Express, 2009). Ricamente ilustrada, a obra conta a trajetória de gêneros musicais pioneiros, como a marchinha e o lundu, da formação do samba, passando pela criatividade da bossa nova e pelos talentos revelados nos grandes festivais, além da rebeldia do rock dos anos 1980 – BRock na expressão cunhada por Arthur Dapieve – e de uma análise sobre a produção contemporânea, que explora a contribuição do mangue-bit de Chico Science e do renascimento da Lapa.
Organizada pelo musicólogo Ricardo Cravo Albin, a obra conta com o apoio conjunto da Faperj, da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério de Ciência e Tecnologia (Finep/MCT) e do Ministério das Relações Exteriores, por meio do seu braço acadêmico, a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag/MRE). Cinco autores se revezaram para contar a evolução musical brasileira no livro, que será distribuído gratuitamente para instituições de ensino e cultura.
Cravo Albin apresenta o preâmbulo e a introdução, em que explica o nascimento dos gêneros e a trajetória dos compositores, desde as primeiras manifestações de miscigenação cultural, oferecendo um passeio pelos pagodes nas casas das “tias” e pela época de ouro do rádio, marcada por grandes vozes, como a de Dalva de Oliveira.
– Escrevi uma grande introdução, que sedimenta a história da música popular desde suas raízes, enfatizando a saga do samba, até exatamente o começo dos anos 1960 – diz o presidente do Instituto Cravo Albin (ICCA) e ex-diretor do Museu da Imagem e do Som.
Em seguida, os jornalistas João Máximo, Artur Xexéo, Antônio Carlos Miguel e Luiz Antônio Giron assumem, respectivamente, a função de contextualizar, cada um, uma das quatro décadas apresentadas na obra.
– Sintetizar 40 anos de MPB em um só livro foi uma missão difícil, que exigiu quase dois anos de dedicação a esse projeto. Por isso, convidei críticos musicais do mais alto nível para dividir a tarefa – conta Ricardo.
Dois CDs, com 15 faixas cada, acompanham o livro. Entre as músicas eleitas, estão Andança, apontada como uma canção “emblemática” da época dos festivais, na voz de Beth Carvalho; As rosas não falam, clássico de Cartola; Samba da cabrocha bamba, raridade interpretada por Elizeth Cardoso; Explode Coração, por Maria Bethânia; e O que é o que é?, de Gonzaguinha.
– A ideia foi colocar o som do Brasil dentro do livro. Os discos têm fonogramas escolhidos a dedo, com o melhor da música brasileira nos últimos 40 anos – afirma Cravo Albin.
A pesquisa musical foi guiada pela força de composições decisivas na história da MPB.
– Os compositores são a essência, o corpo: melodia, ritmo e harmonia. Os cantores são os vestidos, os chapéus, a beleza. Apesar de que o papel dos intérpretes é fundamental. Xexéo destaca em seu texto, por exemplo, a cantora Maria Bethânia. Posso destacar aqui muitas outras vozes, como a da pioneira do axé, Daniela Mercury, a de Marisa Monte, que agregou valor à Portela, e de outras estrelas que, infelizmente, encontram hoje menos espaço na indústria, como Inezita Barroso – ressalva.
A edição em papel couché ganhou um ar cosmopolita com uma versão em inglês de todos os textos, apresentada no final.
– A tradução em inglês, uma colaboração do embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da Funag, alimentou o livro com a possibilidade de transformá-lo em um trabalho de percepção universal – avalia Cravo Albin, acrescentando que outra contribuição do Itamaraty será a distribuição da obra em visitas oficiais.
– Cinquenta exemplares do livro foram encaminhados para o Palácio do Planalto. Eles serão presentes especialíssimos do presidente Lula aos chefes de Estado – diz.
De acordo com Cravo Albin, o título de MPB – A alma do Brasil foi uma escolha natural diante da importância da música popular brasileira como expressão máxima da identidade nacional.
– A diversidade cultural oriunda da miscigenação brasileira faz da MPB o produto cultural número um de exportação do país. Essas quatro décadas representam a consolidação e a internacionalização da música popular – afirma Ricardo.
Ele destaca ainda a originalidade do carnaval e sua aceitação no exterior.
– O Rio de Janeiro ainda pode se orgulhar em produzir o maior espetáculo do mundo: o desfile das escolas de samba. Esse fenômeno, que é um milagre de organização de massas a partir do canto e da dança no mundo, precisa de pesquisas acadêmicas mais aprofundadas, não apenas culturais, mas sociológicas e antropológicas – assinala.
– Ele mostra um temperamento de solidariedade coletiva do povo que é único.
Localizado na Urca, o Instituto Cravo Albin abriga um acervo musical em permanente atualização de mais de 30 mil peças – entre discos de vinil raros da MPB, de oito, dez e 12 polegadas, duas mil fitas sonoras em rolo, 700 fitas magnéticas em cassete e cerca de mil CDs. Além do acervo fonográfico, o instituto expõe peças de indumentária de personalidades da música popular, tais como os chapéus de Pixinguinha, de Tom Jobim e de Moreira da Silva.
Fonte: Governo do Rio