China (jogada característica do vôlei feminino) e desmico (jogada estratégica, usada desde os anos 60) são termos que associados ao esporte até bem pouco tempo pareciam estranhos à maioria das crianças e adolescentes da comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio.
Aí veio a pacificação, foi instalada uma UPP na favela e desde então começaram a chegar outros benefícios: melhoria nos serviços públicos e muitos projetos interessantes, como a Escolinha de Vôlei do Bernardinho, inaugurada há dois anos.
Hoje os significados de china e desmico não são mais mistério; pelo contrário, são palavras que passaram a fazer parte do vocabulário de muitos meninos e meninas que, por causa da escolinha de vôlei, aderiram ao esporte e vêm representando muito bem essa comunidade pacificada.
Nesse grupo estão os jovens Davi Brandão e Luiz Soares, que, com apenas 13 anos, se destacam na escolinha e já fazem parte do time infantil de vôlei do Flamengo. Os jovens foram convocados pela Seleção Carioca Infantil de Vôlei e aceitos pela Federação de Volley-Ball do Rio de Janeiro.
– O objetivo principal da escolinha do Bernardinho não é somente formar talentos, e sim cidadãos. Mas, a gente sempre pinça os talentos que surgem nas comunidades e indicamos para treinar nos clubes – afirmou o professor de educação física Augusto dos Santos.
Augusto conta que na época em que o projeto foi lançado, a comunidade Nova Brasília ainda estava ocupada pelo Exército, e que acompanhou de perto o período de transição.
– Eu nunca tinha entrado no Complexo do Alemão. E acho que se não estivesse pacificado, eu não estaria aqui – disse, lembrando a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Segundo o professor Augusto, além do aspecto esportivo a Escolinha de Vôlei do Bernardinho trouxe outro benefício para a comunidade Nova Brasília. Como são obrigados a estarem matriculados regularmente numa escola, os jovens atletas estão subindo também no ranking dos estudos.
– As mães falam que as notas melhoraram e que eles estão mais disciplinados. Estamos vendo os resultados a cada dia – disse o professor.
Viagem
Após passar por vários testes e enfrentar uma grande concorrência, o menino Davi Brandão agora treina no Flamengo, na Gávea.
– Sei que essa é minha grande oportunidade. Venci essa seleção, disputando vaga com 400 meninos. Mas, ainda tem muita coisa pela frente – disse David, que agora tenta arrecadar verba para participar da Taça Paraná, que vai acontecer no dia 29 de setembro, em Curitiba.
O time vai viajar de avião e com a ajuda de vizinhos a mãe de David, Severina Farias, já conseguiu comprar as passagens de ida e volta.
– Estão cooperando de todas as formas. Ele é um menino muito querido. Até a diretora da escola vai ajudar. Mas, ainda falta dinheiro para alimentação e hospedagem. Serão seis dias fora – disse a mãe do menino.
Pacificação
Moradora de Nova Brasília há 20 anos, Severina conta como sua vida mudou depois da pacificação.
– Hoje temos outra vida. A transformação é grande. Agora os moradores sentem que são cidadãos – afirmou Severina .
Outro dado positivo da Escolinha de Vôlei do Bernardinho é que a exemplo de David e Luiz, o projeto está revelando muitos outros jovens habilidosos.
– É muito bom estar descobrindo esses talentos. Temos outros pequenos que tiveram destaque aqui na escolinha, mas ainda não se federaram. Eles estão no caminho – afirmou Augusto.
– Queremos que, por meio do esporte, eles tenham uma vida melhor. Nós estamos moldando essas crianças. Mas, eles são jovens excelentes. Achei que aqui ia encontrar crianças mais arredias e me surpreendi – afirmou garantiu.
Patrocínio
A Escolinha de Vôlei do Bernardinho foi implantada na comunidade Nova Brasília no dia 22 de agosto de 2011. O projeto atende também moradores dos Morros do Borel e do São João. No início, o projeto tinha patrocínio, mas atualmente é bancado pelo próprio Bernardinho, que faz questão de manter a atividade em andamento.
As aulas de vôlei acontecem nas terças e quintas-feiras de manhã, das 8h30 às 10h30; e à tarde, das 16h às 18h. São duas turmas mistas, com alunos na faixa etária entre 8 e 14 anos. Para fazer a inscrição é necessário que o responsável procure a associação de moradores da comunidade, apresentando documento pessoal da criança ou adolescente, comprovante de matrícula escolar e foto 3X4.
Governo do Rio