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Número de pessoas em situação de rua aumenta mais de 150% em 3 anos no Rio

Agência Brasil

“Somos pessoas que temos apenas o direito de não ter direitos. Somos o lixo da sociedade, que nossos governantes querem colocar debaixo do tapete”. É assim que as pessoas em situação de rua são vistas pela sociedade, segundo a assistente social Maralice dos Santos, que morou três anos na rua e hoje é coordenadora estadual do Movimento Nacional de População em Situação de Rua, no Rio de Janeiro.

 

No trabalho diário com esse público, ela lamenta que mais gente esteja sendo forçada a dormir ao relento, devido ao crescimento do desemprego e da crise econômica no estado. “Famílias inteiras estão indo para as ruas, porque perderam suas casas, por falta de emprego, e estão se somando aos que já estavam na rua”, contou.

 

A afirmação de Maralice é comprovada pelos registros oficiais. A Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro estima que a quantidade de pessoas dormindo nas ruas da cidade aumentou mais de 150% nos últimos três anos. Somente no ano passado, havia cerca de 14,2 mil pessoas nessa situação capital fluminense. Os abrigos disponíveis hoje não comportam nem 20% dessa população. De acordo com a própria secretaria, há na capital 62 abrigos com 2.115 vagas.

 

“Não há abrigo e albergue para todas essas pessoas e os que têm são precários, as pessoas sofrem maus tratos. Quem passou por lá não quer voltar. Moradores de rua não têm voz dentro das instituições, o que o educador social colocar no livro é o que vale, as duas partes não são ouvidas”, afirmou Maralice.

 

Segundo ela, nos locais em que essas pessoas deveriam ser acolhidas e protegidas, os casos de agressões e violações são recorrentes. “Quando estava em um abrigo, havia uma menina com problema mental. E toda vez que havia um plantão específico ela tinha medo, pois era violentada”, lembrou. “Nós não podíamos falar nada, pois senão iríamos para a rua também. São muitas as injustiças que essas pessoas vivem. Ninguém vive na rua porque gosta ou porque quer”.

 

Edmílson Azevedo Santos, 47 anos, vive na rua há cerca de 4 anos e meio. “Perdi minha família, perdi minha casa por causa das drogas. Viver no meio da rua é como se fosse um bicho. Somos tratados como bichos. Sempre fui trabalhador, mas as drogas me levaram para a rua”, disse ele.

 

“Estou há 16 dias sem usar drogas, porque não aguento mais. Na rua, minhas coisas somem, sou roubado toda hora. Vim aqui tirar meus documentos, porque quero trabalhar. Hoje preciso de um lar e de um trabalho”, contou. Dos abrigos, quer distância. Citou como motivos os percevejos nos quartos, a roupa de cama suja e as agressões.

 

A assistente social Carla Lima atende pessoas em situação de rua na região da Maré, Penha, Manguinhos e Bonsucesso, na zona norte da capital fluminense, pelo Programa Saúde da Família. Ela observou que o número de mulheres que hoje dormem na rua aumentou muito nos últimos anos. “O Programa Consultório na Rua quando inciou, há seis anos, 80% dessas pessoas eram homens. Hoje em dia, está bem equiparada a porcentagem de homens e mulheres que nos procuram. O desemprego é uma grande questão, pois não dá muita opção, a pessoa é despejada e acaba indo com o filho para a rua”, comentou.