A decisão da Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) de um possível corte na distribuição de pratos de comida e de sopa, feitos por instituições religiosas e de caridade, nas ruas do Rio, já está causando alvoroço. Para o secretário Rodrigo Bethlem, a alimentação poderia ser fornecida nas áreas internas das entidades.
A decisão gerou debates entre as instituições. O presidente do Movimento de Amor ao Próximo (MAP), Ivan Perdigão, 66 anos, argumenta que o maior problema em proibir a distribuição de comida é que a população não tem condição de chegar até os locais onde ficam as instituições.
— É difícil trazer os moradores de rua até a gente. Além disso, superlotaria a instituição —, disse Ivan, propondo que, ao invés de a secretaria sair tomando medidas, disponibilize um galpão para a distribuição da alimentação.
— O ideal é que eles pegassem um galpão desocupado da prefeitura e disponibilizassem para as instituições, principalmente ali na região do Centro da cidade, onde mais precisa. Funcionaria como os restaurantes populares, só que gratuito —, afirmou.
O presidente do MAP contou que o movimento é uma instituição de assistência social, sem fins lucrativos, que age há 14 anos nas ruas e em comunidades, distribuindo de 200 a 250 quentinhas por dia.
— Nós atendemos principalmente a região do Centro. Verificamos as necessidades tanto de saúde como de higiene, roupa e abrigo. A secretaria precisa entender que dar comida não é o nosso principal objetivo. O alimento é apenas uma maneira de nos aproximarmos dessas pessoas, para podermos inseri-las, novamente, na sociedade.
Bethlem acredita que o trabalho dessas instituições concentra a população de rua em algumas áreas e não soluciona os problemas enfrentados por essas pessoas.
Reunião
Além disso, o secretário vai pedir também que esses grupos trabalhem junto com a Secretaria de Assistência Social e passem a abrigar os moradores de rua. A secretaria vai fazer uma reunião, ainda esta semana, para negociar o fim da distribuição do sopão, antes de iniciar algum tipo de ação.
Outro problema, apontado pelas instituições, é a burocracia para a legalização dos locais.
— Tínhamos um galpão desocupado para fazer esse tipo de trabalho, mas existe tanta burocracia que acabamos desistindo da legalização —, contou o presidente do MAP, lembrando que, muitas vezes, já levou pessoas para dormir em sua própria casa por não ter espaço suficiente na instituição.
A secretaria informou, em nota, que não haverá ação de choque de ordem e nem proibição de distribuição de comida. Na próxima semana, Bethlem vai fazer uma reunião com o secretário de Assistência Social, Fernando William, e representes de Organizações Não Governamentais (ONGs), entidades de caridade e religiosas, com o objetivo de somar esforços e tornar a ajuda dessas entidades mais orgânicas. A dificuldade da legalização dos galpões também será tema da discussão. A ideia é agregar a distribuição de alimentos e o acolhimento às políticas de atendimento e reintegração.
Fonte: Povo do Rio