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Parentes das vítimas do voo 3054

 Diferentemente da investigação da Polícia Federal sobre as causas do acidente com o voo 3054 da TAM, ocorrido em 17 de julho de 2007, o relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre a maior tragédia da aviação comercial brasileira foi bem recebido pelos parentes das 199 vítimas.

“As 83 recomendações de segurança feitas às autoridades aéreas [Anac, Infraero, Cenipa e Organização de Aviação Civil Internacional – OACI] e às empresas [TAM e Airbus] envolvidas no acidente demonstram a seriedade da investigação do Cenipa”, disse o presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 3054 da TAM, Dario Scott, após assistir, em Brasília, à apresentação da síntese do documento elaborado pela comissão militar que apurou as causas da tragédia, na qual morreram 199 pessoas.

Ao contrário do documento concluído nesta semana pelo delegado Ricardo Sancovich, da Delegacia de Defesa Institucional (Drex), que atribuiu a culpa exclusivamente aos comandantes Kleyber Lima e Henrique Stefaninni Di Sacco, mortos no acidente, o Cenipa concluiu que diversos fatores contribuíram para que o avião não conseguisse parar ao pousar no aeroporto e fosse se chocar contra um prédio do outro lado da rua.

Para os militares, ainda que a maioria desses fatores esteja de alguma forma relacionada com a atuação dos comandantes, sobretudo de Stefaninni – que, embora voasse comercialmente há muitos anos, tinha, segundo a comissão militar, uma “experiência limitada” no modelo de avião acidentado, o Airbus A320 –, há outros como irregularidades na pista do Aeroporto de Congonhas e a falta de um dispositivo sonoro na cabine que alertasse a tripulação sobre eventuais problemas no posicionamento dos manetes (alavanca que controla a potência das turbinas).

“Não descartamos a hipótese [de que os pilotos tenham cometido um erro], mas também não podemos falar que foram só eles”, afirmou Scott, atribuindo parte da responsabilidade pelo acidente à TAM, à Airbus, à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e  à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

“Há fatores como a pista [do aeroporto], aberta à operação apesar de diversos reportes de perigo. Há a recomendação da Airbus sobre a necessidade de que fosse colocado um alerta sonoro [na cabine do avião] para avisar os pilotos de problemas com os reversos. Existia uma norma que, mesmo que fosse uma recomendação, estava em vigor e impedia que aviões descessem em Congonhas com o reverso pinado. Nenhuma outra empresa pousava em Congonhas nestas condições e a TAM pousou”, afirmou o presidente da Afavitam,. Para ele,  diferentemente do trabalho do Cenipa, o relatório da PF deixou os parentes das vítimas “indignados”.

Outro que explicitou sua indignação com as conclusões do delegado Sancovich foi o pai de Stefaninni, o comandante aposentado Rafael Di Sacco. “Canalhice [atribuir a culpa aos pilotos]. É fácil. Eles morreram, não podem falar nada e os canalhas estão livres”, reclamou Di Sacco, destacando, por outro lado, que o Cenipa é um órgão “sério”.

O pai de outra vítima, Rebeca Haddad, de 14 anos, Christophe Haddad lembrou que hoje completa 13 o acidente ocorrido em 1996, quando um um Fokker 100 da TAM caiu sobre casas no bairro paulistano Jabaquara, matando 99 pessoas,  e muitas das recomendações de segurança feitas à época ainda não foram cumpridas.

“Naquela época, constavam do relatório final do Cenipa recomendações para que a TAM melhorasse o treinamento de seus pilotos. A mesma recomendação que eu estou vendo ser feita hoje, no relatório do voo 3054. Ou seja, a TAM com certeza não cumpriu a recomendação feita há 13 anos e não houve quem a obrigasse a cumprir. Então eu pergunto, quantos aviões da TAM estão voando neste momento com pilotos mau treinados”?

Fonte: Agencia Brasil