Uma pesquisa sobre motivos da evasão escolar no país será divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo, coordenado pelo chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, Marcelo Neri, revela que o Brasil não conseguirá vencer a batalha pela melhoria da qualidade do ensino se não convencer primeiro os principais protagonistas: os alunos e pais.
Realizada com o objetivo de analisar as causas da evasão escolar na visão dos próprios jovens e de seus pais – a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – e de avaliar a taxa de atendimento escolar – a partir de dados da Pesquisa Mensal do Emprego – o estudo procura saber, por meio de perguntas diretas, por que o jovem não está na escola.
Em entrevista à Agência Brasil, o professor Marcelo Neri antecipa algumas conclusões da pesquisa. Para ele, é fundamental a participação engajada de pais e alunos para que se chegue a bom termo na evolução dos dados da educação.
"A gente pode ganhar todas as batalhas pela melhoria da qualidade da educação, adotando as melhores práticas educacionais, mas se não conseguirmos convencer os principais protagonistas – que são as crianças, os adolescentes e seus país – vamos perder a guerra."
Foram feitas aos estudantes e aos pais perguntas como: porque não estão na escola, pela necessidade de trabalhar, por não ter vaga ou escola perto de casa, por dificuldade de transporte ou por que não querem a escola que aí está?
Na avaliação do professor, as perguntas serviram para derrubar mitos como o de que os jovens de comunidades pobres deixam a escola entre 15 e 17 anos para trabalhar.
Neri antecipou à Agência Brasil que a piora na evasão escolar, envolvendo os jovens nessa faixa etária, ocorre exatamente quando se junta a oportunidade com a necessidade de trabalhar, ou seja, criança pobre, em uma cidade rica, em época de crescimento acelerado da economia.
"A pesquisa mostra que, ao contrário do mito, muitos desses jovens estão fora da escola não porque são de comunidades pobres e têm que trabalhar. A pesquisa mostra que é em regiões ricas, quando a economia está mais aquecida, que eles deixam a escola. O crescimento econômico tira o jovem da escola mais nas regiões ricas do país do que nas mais pobres, que não oferecem oportunidade de trabalho para os pais e seus filhos.
Marcelo Neri disse ainda que a época atual – "de desaceleração da economia em função da crise externa e do apagão da mão-de-obra" – cria uma oportunidade, um efeito colateral, que é positivo no meio de todas as diificuldades: a economia disputar menos o jovem com a escola.
Entre as crianças de até 15 anos abrangidas pelo programa Bolsa Família, o papel do benefício é mais importante pelo controle de freqüência do que pela própria matrícula, uma vez que nessa faixa etária de 96% a 97% já estavam ou continuam na escola. O desafio maior é na faixa de 16 a 18 anos.
O chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV avalia que o efeito do benefício é mais significativo para o crescimento do número de matrículas nas escolas públicas na faixa de 15 a 18 anos.
Fonte: Agência Brasil