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Primeira ONG de música clássica

Todas as segundas, quartas e sextas-feiras, à tarde, suaves acordes de violinos, violas, violoncelos e contrabaixos invadem as casas do alto do Morro Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Ao ritmo dos instrumentos de corda, a música clássica se soma à cadência melódica de flautas doces e ao coral da orquestra de 110 crianças e adolescentes da ONG Ação Social pela Música, que reúne também jovens das comunidades da Babilônia, Chapéu Mangueira e Pavão-Pavãozinho.
Idealizado e implantado há 15 anos pelo maestro David Machado, o projeto musical trabalha pelo desenvolvimento social, humanístico e solidário de jovens estudantes em todo o território brasileiro.
 
Coordenado pela violoncelista Fiorella Solares, a Ação Social pela Música instalou o primeiro núcleo carioca em abril de 2009, no prédio-sede da UPP Santa Marta. Lá, os alunos recebem aulas teóricas, aprendizado de instrumentos orquestrais, coral e, ainda, técnicas de reparo, manutenção e construção de instrumentos.
 
– O objetivo do projeto é educar através da música, deixar a marca de equilíbrio e de amor à cidade na infância e na adolescência. A música tem a capacidade de transformação no jovem, de criar disciplina, de criar uma visão diferente da vida – explica Fiorella Solares, viúva do maestro Machado, que, a partir desta experiência na comunidade Santa Marta, pretende consolidar, no Rio, o modelo existente em diversos países da América Latina, como Venezuela, Guatemala, Argentina, Uruguai, México e Chile.
 
O projeto é patrocinado pela Brookfield Energia Renovável (antiga Brascan) e pelo Instituto Embratel, que disponibilizam R$ 300 mil/ano pela Lei Rouanet, de incentivo à Cultura, e conta ainda com parceiros estrangeiros, como o Consulado Alemão no Rio, a Escola Alemã Corcovado (EAC), que doou parte dos instrumentos, e o RIOSOLIDÁRIO – Obra Social do Rio de Janeiro, que viabilizou o espaço na UPP Santa Marta para abrigar o Núcleo Ação Social pela Música.
 
– A presidente de honra do RIOSOLIDÁRIO, Adriana Ancelmo Cabral, imediatamente se prontificou com a cessão do espaço para a instalação da sede do núcleo na comunidade pacificada Santa Marta, apesar de moradores e estudantes locais, na época poucos meses após a ocupação policial e social, ainda mostrarem certa resistência – lembra Fiorella.
 
Hoje, 30 estudantes do Santa Marta fazem parte da orquestra Ação Social pela Música. O restante dos alunos, de outras comunidades, é levado ao núcleo em vans alugadas pela ONG. Toda semana, além da leitura de partituras, história da música e uso de instrumentos, aprendem a importância da concentração e a influência da música nas emoções.
 
– A ideia não é formar profissionais. A missão do projeto é educar o jovem e abrir portas, usar a música como instrumento de interação com a sociedade. Mas, ao mesmo tempo, também vamos auxiliar e acompanhar de perto aqueles que depois queiram seguir carreira – explicou a coordenadora.
 
Fiorella Solares adiantou que o próximo núcleo do programa Ação Social pela Músicajá está sendo instalado na comunidade pacificada da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, no prédio do Centro de Referência da Juventude. A expectativa é a abertura de 500 vagas para estudantes locais, com patrocínio de R$ 500 mil.
 
O projeto envolve a contratação de profissionais, aquisição de instrumentos, cestas básicas, alimentação e, o mais importante, a criação de uma orquestra na comunidade, que poderá gerar novas orquestras no futuro, como já acontece com a primeira experiência fluminense da ONG, há 14 anos em Campos dos Goytacazes, na região Norte do estado. Segundo Fiorella, os recursos, em geral de empresas da iniciativa privada, podem ser repassado pelas leis do ICMS (estadual) e Rouanet (federal), de incentivo à cultura.
 
– O governador Sérgio Cabral é o primeiro político do Rio de Janeiro com sensibilidade e visão de futuro para apoiar iniciativas dessa natureza, tanto que aprovou a Lei do ICMS de incentivo, para que cada vez mais empresas tenham a oportunidade de prestigiar a cultura – festejou.
 
A pequena Camile Maria de Souza Medina, 10 anos, estudante da Escola Roma, em Copacabana, e residente no Chapéu Mangueira, desde quando foi matriculada no projeto tinha um objetivo: tornar-se, no futuro, uma grande violinista. E ela está no caminho certo. Depois de pouco mais de 10 meses de curso, já domina as cordas e o arco com maestria.
 
Há mais de um ano matriculado, Rodrigo Silva de Almeida, residente no Santa Marta, também optou pelo violino quando decidiu aprender música clássica. O sonho de criança, hoje, aos 20 anos de idade, já é uma realidade. Quando entrou no projeto, mal sabia segurar o instrumento e muito menos ler partituras. O estudante secundarista do Colégio Arthur Costa Silva, em Botafogo, chegou a chorar no início do curso e quase desistir, mas a vontade de aprender foi mais forte.
 
– Pensei em desistir. Tudo era muito difícil e pensava que jamais aprenderia. Hoje estou feliz e orgulhoso. Com certeza, nos próximos anos, vou seguir a profissão – garante Rodrigo.

Fonte: Governo do Rio