O agricultor Joaquim Correa Ribeiro e sua esposa Evanilda só tinham tempo para as tarefas diárias. Mas, há cerca de um mês, começaram a pensar sobre a vida que levam na microbacia hidrográfica Santa Maria, em São José de Ubá, no Noroeste Fluminense. Assuntos como produção e comercialização agrícola, qualidade da água e do solo, preservação ambiental, segurança, lazer, interação entre os moradores, entre outros, já começam a fazer parte das reflexões da família.
– A gente passou a conversar sobre as questões do dia a dia, coisa que não tínhamos o hábito de fazer antes – conta Evanilda.
A mudança aconteceu com o início do monitoramento participativo do programa Rio Rural, da secretaria estadual de Agricultura, na propriedade do casal que, desde então, se reúne com os filhos para responder perguntas sobre temas que impactam a qualidade de vida deles e de toda a comunidade.
– Achei isso muito bom, estamos colocando nossa opinião. Pode ser que, no futuro, encontrem um meio de melhorar a vida no campo, para que nossos filhos não precisem mais sair para a cidade – diz Joaquim, beneficiário de um projeto de pastoreio rotacionado, implantado com incentivo do Rio Rural.
O monitoramento participativo direto na propriedade rural é uma ação piloto, com o objetivo de obter informações sobre o grau de satisfação do produtor e sua família com o trabalho realizado pelo Rio Rural na microbacia. Os técnicos da Emater-Rio são responsáveis pela orientação dos agricultores e esclarecimento de dúvidas sobre a ferramenta. De setembro a dezembro, 17 produtores participarão do levantamento, respondendo perguntas sobre a propriedade e a localidade onde vivem.
Para que as famílias se envolvam e mantenham uma rotina de acompanhamento, as questões ficam afixadas no local de residência, em um painel especialmente criado pelo Rio Rural. O material é recolhido no final do ano, para análise dos dados. Os resultados serão divulgados e, assim, contribuirão para reformular projetos, buscando melhorias no atendimento ao agricultor familiar. A intenção é que, a partir de 2013, o método seja aprimorado e todas as microbacias trabalhadas pelo Rio Rural participem da pesquisa.
Interação para o desenvolvimento sustentável
O pequeno agricultor Deilton Terra Ribeiro, 59 anos, ainda não implantou um projeto do Rio Rural, mas já está dando sua contribuição para o desenvolvimento sustentável de sua comunidade, ao participar do monitoramento participativo.
– É muito importante para a nossa região, para podermos visualizar o que precisa melhorar e de que forma – disse Deilton, que participa do Comitê Gestor da Microbacia de Rio Preto, em Campos dos Goytacazes.
Deilton mora no assentamento há nove anos e cultiva, sem uso de agrotóxicos, milho, abóbora e um grande pomar de frutas nativas, além de criar galinhas e tirar leite de vacas. Por iniciativa própria, ele começou o replantio de uma área de mata em sua propriedade.
– Tenho esse morro degradado isolado, com algumas mudas de árvores nativas. Não vejo a hora de crescerem e formarem uma floresta – explica.
As terras onde o agricultor foi assentado eram de antigos donos da Usina Novo Horizonte e, durante décadas, foram usadas para o cultivo da cana-de-açúcar.
– O histórico da monocultura explica essa erosão nos morro – diz Geraldo Monteiro, assessor técnico regional do Rio Rural.
Na microbacia Valão do Carcanjo, em Italva, o casal Carlos Alberto e Sandra Rocha também está feliz em participar da pesquisa.
– É bom saber que temos um canal de comunicação, que alguém quer ouvir o que nós temos a falar. É uma grande oportunidade, que pode trazer muitos benefícios para o campo – acredita Sandra.
A pecuária de leite e de corte é a principal atividade econômica na propriedade da família, beneficiada pelo programa com projetos de adubação orgânica do pasto, aquisição de sêmen e isolamento de área de recarga.
Na última semana, o assessor técnico do Rio Rural, Marcos Sulivan Damasceno, vistoriou as propriedades com monitoramento participativo.
– Estamos orientando os agricultores sobre a utilização e o preenchimento do painel de monitoramento, explicando o porquê desta ação. Queremos facilitar a vida do produtor rural e para isso é preciso saber o que ele pensa, o que precisa e como está desenvolvendo suas atividades – diz Sulivan.
O monitoramento participativo já está implantado nas cidades de Campos dos Goytacazes, São Fidélis e São Francisco de Itabapoana (Região Norte); São José de Ubá, Italva e Natividade (Noroeste); Trajano de Moraes, Nova Friburgo e São José do Vale do Rio Preto (Serrana); Sapucaia e Vassouras (Sul); e Seropédica, São Gonçalo e Magé (Metropolitana).
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