A pesquisa sobre a vida sexual do brasileiro, divulgada ontem pelo Ministério da Saúde, mostra que 10,5% dos jovens entre 15 e 24 anos tiveram pelo menos um parceiro sexual que conheceram na internet. O número cai praticamente pela metade na faixa etária seguinte, de 25 a 49 anos (5,4%) e despenca para 1,7% entre os indivíduos que tem entre 50 e 64 anos. No total, 7,3% da população brasileira já fez sexo com um parceiro que conheceu virtualmente.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o ministério está trabalhando em redes de relacionamento e em outros sites para disseminar informação sobre métodos de prevenção. — Você acha que a velhinha tá lá fazendo crochê? Ela já tá ligada na internet, conectada — brincou.
Esse número vem acompanhado, segundo o ministério, do aumento do número de relações casuais: 9,3% das pessoas entre 15 e 54 anos tiveram mais de cinco parceiros nos doze meses anteriores à pesquisa, contra 4% de um levantamento anterior feito em 2004. Quando o corte é aumentado para pessoas com até 64 anos, o número cai para 8,8%. Mesmo assim, o órgão aponta avanços. Os jovens são os que têm mais parceiros não fixos, mesmo que usem mais o preservativo. Além disso, são eles que pegam mais camisinha de graça e a escola é o segundo local com maior acesso. Os que
pegam o preservativo de graça, diz o ministério, tendem, no geral, a usar mais camisinha. A prática de sexo casual no País cresceu 132% em quatro anos, revela também a pesquisa. Em 2008, 9,3% dos entrevistados informaram que tiveram mais do que cinco parceiros casuais no ano anterior. Esse índice era de 4% em 2004. Porém, o que preocupa a pasta é que o comportamento veio acompanhado por outra mudança perigosa: a tendência de queda do uso do preservativo. Em 2004, 51,6% diziam usar a camisinha em todas as parceiras eventuais. Esse porcentual caiu para 46,5% em 2008. Na pesquisa, foram entrevistadas 8 mil pessoas, de 15 a 64 anos, em todas as regiões do Brasil.
Aumento da traição e mal uso do preservativo
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, alertou ontem para o risco da banalização da Aids devido à melhoria do tratamento e ao aumento da sobrevida dos pacientes com a doença. Temporão se disse preocupado durante a divulgação da "Pesquisa sobre Comportamento, Atitudes e Práticas Relacionadas às DST e Aids na População Brasileira de 15 a 64 anos (PCAP – 2008)", que apontou queda no uso de preservativo. Depois da primeira relação, por exemplo, passa de 61% para 50% o uso de preservativo nas relações sexuais com parceiros casuais.
— Não podemos cair na banalização da doença. É preciso prevenir na mesma intensidade em que estamos melhorando o tratamento. A Aids é um risco sempre presente, e é muito melhor viver sem a doença do que com ela — enfatizou.
O alerta foi reforçado pela coordenadora de DST/Aids do ministério, Mariângela Simão. Ela lembrou que 33 mil pessoas ainda contraem a doença a cada ano no país, e que outras 11 mil morrem em decorrência da Aids.
— Parte das pessoas não percebe mais a Aids como problema. A incidência esta estabilizada, mas em patamares altos. Não se pode baixar a guarda — advertiu.
O ministério anunciou que vai lançar até o fim do ano uma campanha de conscientização para estimular o uso do preservativo em sites de relacionamento, como o Orkut. A ideia é participar de grupos de discussão e incentivar os internautas a praticarem sexo seguro e a se submeterem a teste de HIV. A pesquisa, a maior feita no País sobre o assunto, permite traçar um retrato sobre o comportamento sexual do brasileiro. O trabalho indica que 79% da população entre 15 e 64 anos é sexualmente ativa e que 16% dos entrevistados já traíram seus parceiros. O homem é o que mais admite esse comportamento: 21%, ante 11% entre as mulheres.
As diferenças entre o grupo masculino e feminino não se limitam ao item traição. O homem inicia a vida sexual mais cedo (36,9% tiveram a primeira relação antes dos 15 anos), tem maior número de parceiros casuais (13,2% tiveram mais de cinco parceiros casuais no ano anterior à pesquisa, um índice três vezes maior do que o das mulheres) e 10% apresentaram pelo menos um parceiro do mesmo sexo na vida (quase o dobro do que foi apresentado pelas mulheres: 5,2% tiveram relações com parceiras do mesmo sexo). Os homens, em compensação, usam mais preservativos do que o grupo feminino, em qualquer situação: seja com parceiras fixas, casuais ou eventuais (fora da relação estável). O estudo mostra, por exemplo, que 63,8% do grupo masculino entre 15 e 24 anos usou camisinha na primeira relação sexual. Entre as mulheres, esse índice foi de 57,6%. A pesquisa revela um fato intrigante. Apesar de ser registrada uma tendência de queda no uso de preservativos, a população brasileira apresenta um elevado conhecimento sobre a infecção e prevenção de Aids.
De acordo com o estudo, mais de 95% da população sabe que o uso do preservativo é a melhor forma de se evitar a contaminação. Segundo o ministério, esse é um dos índices mais altos do mundo. Um estudo feito com 64 países mostra que 40% dos homens e 38% das mulheres entre 15 a 24 anos tinham conhecimento exato sobre como evitar a transmissão do HIV.
Fonte: Ministério da Saúde