Início Cultura ‘Baghead – A Bruxa dos Mortos’: Sustos e Clichês

‘Baghead – A Bruxa dos Mortos’: Sustos e Clichês

Por Marco de Cardoso

‘’A Bruxa dos Mortos: Baghead ‘’ é uma tentativa. Sim, a melhor definição é essa, uma tentativa de produzir um bom produto do gênero terror. Só que no caminho entre tentar e acertar ou errar, o resultado se equilibra precariamente entre o inovador e o banal.

O enredo se propõe a explorar a questão tão humana do luto e também do passado mal resolvido entre pai e filha, para criar uma narrativa sobrenatural que atinja os espectadores de forma  aterrorizante.

BAGHEAD, 2021

O roteiro de Bryce McGuire e Christina Pamies, apresenta  a história de Iris (vivida por Freya Allan, da badalada série  “The Witcher” da Netflix), uma jovem que após a  morte do pai, com quem não tinha um bom relacionamento, num terrível acidente ,ganha um bar como herança. Só que o local abriga um habitante sinistro: uma entidade (a Baghead) que tem o poder de incorporar os mortos. Isso acaba virando um negócio lucrativo e perigoso, pois as pessoas começam a pagar para serem ‘’atendidas’’ pela  assombração, com o intuito de conversar com entes queridos que já ‘’desencarnaram’’, em busca de respostas para questões que foram para o túmulo com as mortes. Só que isso vai levar a consequências trágicas.

BAGHEAD, 2021

‘’A Bruxa dos Mortos’’ tem um grande ponto positivo na sua fotografia soturna e ‘’dark’’ (feita pelo craque Cale Finot), que mantém o espectador envolvido num clima sombrio, bem à caráter da trama que se desenvolve na tela. Os movimentos de câmera fazem a plateia quase que entrar dentro do filme, embora em alguns momentos abuse dos planos de cima para baixo (plongée). Mas de qualquer forma o filme é visualmente impressionante, com uma escolha de cores que captura perfeitamente a atmosfera que histórias de horror ambicionam transmitir.

BAGHEAD, 2021

Dirigido por Alberto Corredor, um cineasta iniciante no formato longa-metragem e que claramente demonstra ter admiração pelo gênero terror, o filme tenta se destacar neste cenário, mas acaba tropeçando em alguns dos clichês mais batidos que os aficionados pelo tema conhecem muito bem.

Luzes que se apagam quando menos se espera, pesadelos sufocantes atormentando a protagonista, molduras que caem sozinhas da parede, fantasmas que aparecem do nada, criaturas horrendas atacando as pessoas, mortes assustadoras, enfim, tudo que você com certeza já viu em outras produções similares, você também vai ver em ‘’A Bruxa dos Mortos’’.

BAGHEAD, 2021

Outro ponto que poderia ser melhor nessa produção é o elenco, cujas atuações variam de medianas a totalmente esquecíveis, com personagens sem muito estofo e tramas entre eles pouco desenvolvidas. Como por exemplo a relação entre as duas amigas Iris e Katie (Ruby Barker) que fica longe de convencer de que exista mesmo alguma amizade sincera e cumplicidade entre as duas, que vá além do WhatsApp.

E o que dizer da tal bruxa que vive dentro de um buraco na parede do porão e  que tem a peculiar característica de transitar entre o mundo dos mortos e dos vivos com um saco enfiado na cabeça (??!!)…daí o  nome Baghead. Parece meio tosco… e é!

De qualquer forma, o filme tem, além da bela fotografia, alguns  pontos positivos, como o ‘’timing’’ da montagem das cenas (que garante uns bons sustos), a interessante revelação histórica que explica a existência da  bruxa e uma reviravolta verdadeiramente surpreendente com uma morte inesperada que faz a narrativa escapar de um final totalmente previsível.

Em resumo, ” A Bruxa dos Mortos: Baghead’’ não será uma experiência muito original para quem esteja buscando um algo a   mais. Mas com certeza pode ser um bom passatempo para os fãs do gênero.

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Marco de Cardoso é Diretor Cultural da AIB – Associação da Imprensa do Brasil